Mercado de trabalho chinês se molda à crise do aço
Sheng Li/Reuters | ||
Operário retira minério de ferro em porto chinês |
Milhões de pessoas estão destinadas a perder seus empregos com o fechamento de dezenas de minas e siderúrgicas de baixo desempenho na China, e Pequim prometeu que agiria para atenuar o golpe, criando um fundo de 100 bilhões de yuans (US$ 15,4 bilhões) para ajudar a "reaproveitar" trabalhadores no próspero setor de serviços.
Mas uma visita à região de Tangshan, a capital da siderurgia chinesa, na província de Hebei, cerca de 260 km a sudeste de Pequim, mostra até que ponto esse plano parece demasiado otimista.
Enquanto o primeiro-ministro Li Keqiang prometia, em sua entrevista coletiva anual em março, que a China evitaria demissões em massa, a Qianan Zhayi Steel, uma siderúrgica privada em Tangshan, se tornou a mais recente a iniciar o fechamento definitivo de seus altos fornos.
Chen Jiyu, fumante inveterado e funcionário da siderúrgica, já previa o fechamento da empresa; era evidente que ela estava falida. Mas, quando a notícia chegou, ele perdeu o emprego que tinha desde que concluiu o segundo grau, dez anos atrás, além de ficar três meses sem receber.
Ele afirma não ter recebido ajuda alguma do governo ou da empresa. "Eu não conseguia dormir."
O fundo do premiê promete ajudar os trabalhadores a encontrar novas oportunidades no setor de serviço, que está se expandindo.
Chen, de sua parte, espera que sua capacitação como soldador possa ser aproveitada na indústria automobilística. "Consertar laminadoras de aço e consertar carros é a mesma coisa, certo?"
Os serviços respondem por porção maior da economia chinesa do que a indústria pesada, no passado o orgulho do proletariado comunista. Mas nas cidades siderúrgicas em crise, como Tangshan –que produz só quase tanto aço quanto os EUA, isso pode não bastar para absorver a mão de obra excedente.
Ruas de lojas e restaurantes vazios flanqueiam as siderúrgicas de Tangshan, com otimistas placas de "aluga-se" afixadas. Quarteirões inteiros de complexos de apartamentos vazios ou inacabados cercam o centro da cidade.
À medida que cai o numero de trabalhadores com empregos fixos, reduz também demanda necessária a desenvolver o setor de serviços ou estimular novas construções.
O governo de Hebei espera que 60% de suas empresas de siderurgia fechem ou se reestruturem nos cinco próximos anos, disse Zhang Qingwei, secretário-assistente do Partido Comunista.
"Os mais velhos serão os primeiros a ser demitidos. Mas o setor de serviços está em busca de trabalhadores mais jovens e mais capacitados no uso da tecnologia, dispostos a trabalhar por mais tempo e menos dinheiro", disse Geoffrey Crothall, do "China Labour Bulletin".
A organização dele registrou mais de 300 greves de trabalhadores em Hebei desde o começo de 2015.
Perto do centro de Tangshan, o senhor Zhang, 39, engenheiro da Ruifeng Steel, passa boa parte parte dos dias em que fica em casa planejando o negócio que pretende criar quando for demitido.
Ele espera ser um bom exemplo da campanha "inovação e empreendedorismo para as massas" –uma tentativa de estimular o crescimento de pequenas empresas e start-ups. Mas ele mesmo se define como exceção.
"A maioria das pessoas demitidas que conheço ainda não encontrou emprego novo. Algumas estão procurando há um semestre, algumas há um ano", ele diz. "De 100 pessoas à procura de emprego, só 20 ou 30 encontram."
Para bloquear protestos, as empresas não informam os trabalhadores sobre cortes iminentes. O empregador de Zhang demitiu alguns funcionários em novembro, o que o estimulou em sua decisão de começar a procurar outra coisa. "Este ano, eles dizem que acontecerão novas demissões, mas ninguém sabe quando".
O fundo para reaproveitamento de trabalhadores cobriria apenas 11 meses de salário para 1,8 milhão de trabalhadores, considerando a média nacional de salário das siderúrgicas estatais. Os custos previdenciários e de retreinamento elevarão ainda mais as despesas.
Em Tangshan, são os migrantes rurais que mais sofrem quando usinas siderúrgicas fecham. "Eles não têm educação avançada e tampouco muita capacidade de trabalho", diz Zhang. "Dependem da venda de esforço físico. Para eles, é uma situação sem esperança".
Cerca de 8% dos homens de Hebei não têm educação formal, e a proporção sobe entre os trabalhadores mais velhos. A remuneração média anual na indústria de Hebei é de 43,95 mil ienes (US$ 6,7 mil), e não permite que um trabalhador poupe dinheiro suficiente para começar um novo negócio.
Em lugar disso, os migrantes tentam ganhar a vida visitando "feiras de trabalho" –esquinas nas quais empregadores contratam pessoal para trabalhos ocasionais.
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