Análise
Mudanças de rumo travam setor automotivo no Brasil
No fim de 2012, a Anfavea projetava que o mercado nacional registraria 5 milhões de emplacamentos em 2017. Essa seria a conta para absorver a então crescente produção de automóveis leves, ônibus e caminhões no Brasil, sem que fosse preciso contar com exportações vultosas.
As novas montadoras que se instalavam por meio de incentivos (e exigências) à fabricação local movimentavam os investimentos no setor. Somadas às expansões das que aqui já estavam, as novas empresas indicavam um cenário animador, em que R$ 12 bilhões seriam investidos anualmente na indústria automotiva.
DESCOMPASSO
O dinheiro veio e elevou a capacidade instalada para os atuais 4,7 milhões de unidades. Mas o mercado parou.
Esse descompasso se deve a agendas incongruentes. O setor automotivo faz movimentos calculados, com prazos sempre superiores a cinco anos. As decisões avaliam cenários futuros de longo prazo: uma fábrica que começará a operar em 2018 já estipulou o planejamento de produtos até, no mínimo, 2023. Tudo baseado em estudos que envolvem mercado, previsão de estabilidade política, crescimento do PIB etc.
Contudo, as decisões que envolveram o governo nesse período foram açodadas.
As múltiplas desonerações do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o bloqueio aos importados por meio de sobretaxa, o programa Inovar-Auto, entre outras, foram medidas que poderiam ter um efeito benéfico de longo prazo caso estabelecidas em cronogramas bem definidos e sem mudanças ao longo do percurso.
A indústria automotiva, acostumada a benesses concedidas ao longo de 60 anos de industrialização, mantém discurso ponderado por meio de suas entidades. Não foram poucas as vezes em que bateu à porta do governo –do atual e de outros– e teve suas reivindicações atendidas.
NO AGUARDO
Em um cenário atual totalmente avesso, com capacidade instalada equivalente ao dobro da demanda interna, a ausência de confronto aberto do setor automotivo com o Poder Executivo indica que já se espera a troca de comando em Brasília. A indústria não quer se indispor, prefere aguardar o desfecho.
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