Veteranos empreendedores trocam campo de guerra pelo escritório
Jason Henry/The New York Times | ||
Drew DeWalt, cofundador do Rhumbix (centro) |
Depois de anos de operação sob uma cadeia de comando rigorosa, muitos veteranos de guerra se sentem prontos a assumir o comando de suas vidas profissionais. Muitos aspirantes a criar empresas vêm descobrindo que técnicas e experiências que eles adquiriram nas forças armadas podem ser traduzidas diretamente em forma de ideias para start-ups.
"Os veteranos se sentem confortáveis operando em ambientes de alta pressão e que mudam com rapidez, nos quais se veem constantemente forçados a tomar decisões com base em informações incompletas", disse Zachary Scheel, que trabalhou para a marinha dos Estados Unidos como engenheiro civil e é cofundador da Rhumbix, uma start-up de tecnologia para construção.
Esses veteranos estão adaptando ferramentas e estratégias que aprenderam durante seu serviço militar a usos civis, e alguns se viram inspirados a criar empresas para resolver problemas que testemunharam nos campos de batalha.
Os veteranos de guerra norte-americanos têm um longo histórico de criação de empresas. Quase 50% dos veteranos da Segunda Guerra Mundial vieram a abrir e operar empresas quando concluíram seu serviço militar, de acordo com pesquisas do Instituto para Veteranos e Famílias de Militares, na Universidade de Syracuse.
Nas décadas posteriores, porém, essa proporção caiu acentuadamente. Em 2014, veteranos de guerra representavam apenas 5,6% dos novos empreendedores nos Estados Unidos, de acordo com um relatório da Fundação Ewing Marion Kauffman.
Parte disso pode resultar da ênfase dos programas de transição. Na experiência de Scheel, os recrutadores de pessoal tentaram colocar oficiais de baixa patente como ele no mercado financeiro, em consultorias ou na indústria, ainda que ele não tivesse interesse por esses setores.
Em 2011, durante a Primavera Árabe, Scheel estava estacionado em Djibouti, onde usava uma ferramenta chamada Blue Force Tracking, desenvolvida pelas forças armadas. O sistema usa o GPS para rastrear as posições de soldados em tempo real.
Dois anos depois, Scheel havia concluído seu serviço e estava trabalhando para uma grande construtora em uma mina de cobre no norte do Chile, onde compreendeu que poderia adaptar o conceito do Blue Force Tracking para melhorar a eficiência em canteiros de obras.
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Trabalhadores usam aplicativo desenvolvido pelo Rhumbix |
Construção fascinava Scheel desde sua infância em Cincinnati, de onde seu pai vendia máquinas de construção para quatro Estados. Tradicionalmente, os mestres de obras anotam o tempo de trabalho de cada funcionário em seus cadernos, e os dados são posteriormente transferidos a cartões de ponto, cujas informações têm de ser digitadas em computadores e posteriormente auditadas.
O aplicativo móvel desenvolvido pela Rhumbix permite que os trabalhadores apresentem time sheets usando seus smartphones, e os mestres de obras podem aprová-los instantaneamente. Essa informação, muitas vezes combinada a dados de GPS do celular do operário, ajuda o mestre de obras a analisar quanto trabalho foi realizado em cada ponto. Eles também podem identificar os locais onde existem atrasos, o que permite promover maior eficiência.
Por exemplo, durante a construção de banheiros pré-fabricados como parte de uma recente ampliação do Hospital Comunitário de Riverside, no sul da Califórnia, os mestres de obras usaram o app da Rhumbix para reorganizar onde e como depositavam os materiais de construção. Isso reduziu o número de viagens necessárias para apanhar materiais e encurtou em 75% o tempo de construção de cada banheiro.
A Rhumbix testou suas ferramentas de software móveis em 20 projetos de construção na Califórnia, Colorado, Texas e Carolina do Sul, e introduzirá seu primeiro produto comercial em julho. A empresa, sediada em San Francisco, agora tem 24 funcionários e arrecadou US$ 7 milhões em capital.
OUTROS PROJETOS
Outros veteranos desenvolveram ideias de negócios para ajudar diretamente as forças armadas. Para Doug Moorehead, antigo membro das forças especiais da marinha que vive em Cambridge, Ohio, o número de soldados mortos em missões de escolta de caminhões de combustíveis no Iraque foi a motivação para a criação de seu negócio.
O combustível é um recurso precioso, o que tornava aqueles que o transportam alvos primários para os insurgentes. No Iraque, um soldado era morto ou ferido a cada 39 comboios de combustível, de acordo com o Instituto de Política Ambiental do exército norte-americano.
"Eu precisava encontrar uma maneira de reduzir o número de soldados, marinheiros e fuzileiros navais expostos a perigos no campo de batalha", disse Moorehead.
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Zachary Scheel, cofundador do Rhumbix |
As experiências dele o levaram a desenvolver um gerador híbrido que opera com maior eficiência. Os novos geradores que criou usam de 50% a 75% menos combustível do que os modelos anteriores.
Agora, diversas organizações das forças armadas usam os geradores híbridos produzidos pela Earl Energy, a empresa de Moorehead. Em 2013, ele criou uma segunda marca, a FlexGen, hoje uma companhia separada, para vender geradores híbridos a clientes comerciais. Moorehead agora tem 32 funcionários e levantou mais de US$ 40 milhões em capital.
Diversas empresas de petróleo e gás natural já adquiriram os geradores da FlexGen, e a empresa vem negociando contratos com diversos hospitais e companhias de mineração em todo o mundo.
Embora ele e outros tenham criado novos negócios, muitos veteranos não dispõem dos contatos e dos exemplos que os ajudariam a começar.
Nos dois últimos anos, porém, muito mais recursos se tornaram disponíveis para os veteranos que aspiram se tornar empreendedores. Em 2013, a Administração das Pequenas Empresas (SBA), uma agência federal, introduziu um novo programa chamado "Boots to Business", um curso introdutório de dois dias sobre o empreendedorismo, seguido por um curso online de oito semanas.
Cerca de 42 mil pessoas fizeram o curso introdutório, que é oferecido em 200 bases militares dos Estados Unidos em todo o planeta, e 3,3 mil delas fizeram o curso mais longo.
A SBA também ajuda os veteranos a identificar os contatos locais certos para conduzi-los durante o processo de obtenção de licenças, se os seus empreendimentos de negócios têm vínculos estreitos com seu serviço militar e podem requerer liberação para uso de informações confidenciais obtidas naquele contexto.
"Muitos veteranos têm excelente treinamento em segurança cibernética, por exemplo, e isso poderia ser usado posteriormente para proteger outras instituições", disse Barbara Carson, administradora associada que cuida do Serviço de Desenvolvimento de Negócios de Veteranos na SBA.
VIDA CIVIL
As start-ups comandadas por veteranos também têm uma compreensão especial de como ajudar os egressos das forças armadas em seu ajustamento ao trabalho civil.
Tim Dunnigan, um empreendedor serial que passou 20 anos no exército e criou cinco empresas, recorreu a um capelão militar para seu mais novo projeto, a Talon Aerolytics. A empresa de 32 funcionários que ele comanda, sediada em West Point, Geórgia, só tem veteranos em seus quadros. Ela usa drones (aeronaves de pilotagem remota) para recolher e analisar dados de torres de telefonia móvel, usinas de energia e outras estruturas.
"Quando você já não está nas trincheiras e ninguém mais está atirando em você, a forma pela qual você fala com as pessoas precisa mudar", disse Dunnigan.
O capelão, uma figura conhecida em qualquer unidade militar, dedica seu tempo a falar desse assunto com os novos funcionários, por meio de um programa interno chamado "de homem de guerra a homem comum". Ele também funciona como "um farol de calma", disse Dunnigan, para alguns veteranos que sofrem de distúrbio de estresse pós-traumático.
A hierarquia rígida das forças armadas ajudou alguns veteranos a desenvolver negócios que requerem criar ordem no caos.
Durante seus 13 anos na força aérea, dois dos quais como major, Angela Cody-Rouget desenvolveu interesse especial pela modo de organização de pessoas e objetos que as forças armadas empregam.
"Em bases operacionais estrangeiras, existe um posto de comando central onde todos os dados e papéis são processados e armazenados", ela disse.
Em 2006, Cody-Rouget criou uma empresa chamada Major Mom, para ajudar pais ocupados a organizar suas casas.
A Major Mom hoje conta com uma equipe de 23 organizadores, chamados de "liberadores". A tarefa mais frequente para eles é ajudar pais ocupados a criar um "posto de comando central", quer em um escritório doméstico, quer em um quarto de hóspedes, quer em uma simples mesa na qual toda a correspondência e papelada da casa é separada e armazenada, de preferência a manter documentos espalhados pela casa.
A Major Mom já organizou 1,1 mil casas. O pacote mais popular da companhia custa US$ 2.088 por até 46 horas de trabalho de organização.
Como muita gente que cria empresas, Cody-Rouget disse que se estabelecer por conta própria teria sido mais fácil se ela tivesse exemplos a seguir.
"Meu maior erro foi não usar os recursos disponíveis na forma de outros veteranos", disse Cody-Rouget. "Isso teria economizado muito tempo para mim".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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