Dólar cai com perspectiva de juros estáveis por mais tempo; Bolsa recua
Fernando Frazão - 24.jul.2012/Folhapress | ||
Manutenção dos juros no atual patamar por mais tempo impulsiona o real ante o dólar |
Os mercados globais mantiveram o ritmo de cautela nesta terça-feira (26), à espera das reuniões de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) e do BC do Japão.
No Brasil, a moeda americana recuou e os juros futuros de curto e médio prazo avançaram, influenciados pela ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que reforçou a percepção de que um corte da taxa básica de juros (Selic) pode demorar. O Ibovespa fechou em leve baixa, pressionado pelos papéis da Petrobras e do setor financeiro.
CÂMBIO E JUROS
O dólar fechou em baixa de 0,51%, a R$ 3,2706, enquanto o dólar comercial recuou 0,66%, a R$ 3,2710, apesar de mais uma ação do BC no câmbio.
A autoridade monetária leiloou mais 10.000 contratos de swap cambial reverso (equivalente à compra futura de dólares), no montante de US$ 500 milhões. Desta forma, o BC reduziu seu estoque de swap cambial tradicional (correspondente à venda futura da moeda americana) para US$ 54,135 bilhões.
Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor, ressalta que a moeda tem se mantido nos últimos dias numa banda entre R$ 3,22 e R$ 3,30. "Toda vez que a cotação se aproxima dos R$ 3,30, o dólar perde força", afirma.
Na avaliação do profissional, a tendência é de que a moeda americana permaneça nesta faixa até uma definição sobre o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. O julgamento de Dilma no Senado está previsto para o fim de agosto.
Além disso, na ata divulgada nesta terça-feira, o Copom afirmou que a inflação tem recuado a uma velocidade "aquém da almejada", ao listar os fatores que levaram a instituição a manter a taxa básica de juros em 14,25% ao ano na reunião da semana passada.
A instituição reafirmou que a aprovação e implantação mais rápida das reformas propostas pelo governo na economia contribuiriam para uma queda mais rápida da inflação e dos juros
Muitos analistas preveem corte da Selic apenas a partir de outubro, mas alguns já começam a cogitar que isso possa ocorrer somente em 2017.
"Caso as medidas fiscais demorem, a percepção dos agentes dos mercados é de que quedas de juros ficarão para o próximo ano", escreve Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais.
A manutenção dos juros no atual patamar favorece as chamadas operações de arbitragem, quando o investidor capta em um país a juros menores e investe em outro a juros maiores para ganhar com a diferença entre as taxas.
"A ata mais dura do Copom acabou compensando o cenário externo mais defensivo, e o dólar caiu", afirma José Faria Júnior, diretor técnico da Wagner Investimentos. "A leitura é de que poderá haver somente um corte da Selic este ano", acrescenta.
No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 subiu de 13,940% para 13,970%; o contrato de DI para janeiro de 2018 avançava de 12,820% para 12,850%; e o DI para janeiro de 2021 recuou de 12,110% para 12,040%.
O CDS (credit default swap) brasileiro de cinco anos, espécie de seguro contra calote e indicador de percepção de risco, subia 0,91%, aos 294,364 pontos.
Analistas ressaltam que "ruídos" em torno do ajuste fiscal começam a incomodar o mercado. A equipe de análise da Lerosa Investimentos escreve, em relatório, que "paira entre os agentes o sentimento de que falta mais contundência do governo na defesa do ajuste fiscal, exigindo mais ação e menos retórica".
Ainda nesta terça-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse à Folha que a aprovação da agenda econômica no Legislativo vai abrir espaço para a volta do crescimento e a queda da taxa Selic.
Segundo ele, "depois do julgamento do impeachment e da aprovação de projetos como a renegociação da dívida dos Estados e, principalmente, do teto dos gastos públicos, haverá um impulso forte na economia e os juros vão cair".
BOLSA
O Ibovespa manteve-se no campo positivo durante quase toda a sessão, mas perdeu fôlego e acabou fechando em baixa de 0,16%, aos 56.782,75 pontos. O giro financeiro foi de R$ 6,2 bilhões.
As ações da Petrobras perderam 1,24%, a R$ 11,88 (PN), e 0,14%, a R$ 13,74 (ON), influenciadas pela fraqueza dos preços do petróleo no mercado internacional.
O petróleo Brent, negociado em Londres, subia apenas 0,02%, a US$ 44,73 o barril, depois de ter recuado nas três sessões anteriores. O petróleo tipo WTI, negociado em Nova York, perdia 0,79%, a US$ 42,79 o barril, recuando pela quarta sessão consecutiva, em meio às preocupações em relação ao excesso de oferta global.
No setor financeiro, Itaú Unibanco PN caiu 1,27%; Bradesco PN, -0,79%; Banco do Brasil ON, +0,65%; Santander unit, +1,15%; e BM&FBovespa ON, -0,62%.
Entre as maiores altas do índice, destacaram-se as ações da Vale e de siderúrgicas.
Os papéis da Vale subiram 4,28%, a R$ 14,59 (PNA), e 5,74%, a R$ 18,42 (ON). As ações da mineradora foram beneficiadas pela alta do minério de ferro na China.
Entre as siderúrgicas, Usiminas PNA subiu 5,92%; Gerdau PN, +3,68%; e CSN ON, +2,09%.
EXTERIOR
Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 ganhou 0,03%; o Dow Jones, -0,10%; e o Nasdaq, +0,24%. Os índices reagiram a resultados corporativos e ao fato de o petróleo voltar a ser negociado abaixo dos US$ 45 o barril.
Os investidores mantiveram-se cautelosos, à espera do resultado da reunião do Fed, nesta quarta-feira (27), que pode indicar se haverá aumento das taxas de juros neste ano ou só em 2017.
Na Europa, a Bolsa de Londres fechou em alta de 0,21%; Paris, +0,15%; Frankfurt, +0,49%; Madri, -0,18%; e Milão, +0,03%.
Na Ásia, as Bolsas chinesas subiram, mas no Japão o índice Nikkei caiu 1,43% com a forte valorização do iene nesta terça-feira. O mercado aguarda a reunião do banco central do Japão, na sexta-feira (29), que pode anunciar novos estímulos monetários.
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