Baixo custo leva empreendedores a criar negócios em casa
Ganhe dinheiro trabalhando em casa. A proposta é atraente, mas especialistas alertam que manter um negócio "caseiro" exige cuidados -e longa carga horária- para que dê resultado.
A designer Gabi Rodrigues, 30, abriu em setembro de 2015 um e-commerce homônimo de produtos de decoração, com quadros, bordados e luminárias, em seu apartamento de 50 m² em São Paulo.
O investimento foi baixo: cerca de R$ 1.000 em material, pequenos equipamentos para a confecção das peças e a abertura da empresa.
Avener Prado/Folhapress | ||
Gabriela Leite Rodrigues, 30, tem uma loja virtual de decoração em casa |
O lucro também é pequeno, cerca de R$ 500 mensais. Por isso, após 11 meses, a loja ainda não se tornou sua fonte exclusiva de renda.
A maior dificuldade dela é divulgar a empresa. Além do site, Rodrigues anuncia em plataformas como Mercado Livre, Olx e Enjoei. "Embalo e despacho as peças e me disponho a encontrar o cliente numa estação de metrô para fazer uma entrega."
Rodrigues, contudo, é otimista com o futuro. "Já estou em fase final de negociação com grandes sites que vendem produtos de designers."
Fazer um negócio de estrutura pequena deslanchar é o maior desafio de quem escolhe a própria casa como sede.
Um erro comum desses microempreendedores é misturar as contas de pessoa física e de pessoa jurídica, o que dificulta a identificação do gasto e do faturamento efetivo, o que pode ameaçar a renda doméstica.
A consultora de negócios Ana Vecchi orienta empreendedores caseiros a abrir contas separadas não só no banco, mas também de telefonia e internet para uso pessoal e profissional.
Já o consultor do Sebrae Fábio Gerlach recomenda cuidado extra com a rotina de trabalho. Muitos empreendedores têm dificuldade de separar as horas necessárias de dedicação aos negócios das demandas domésticas.
Karime Xavier/Folhapress | ||
Alexandre Martin toca uma microfranquia de lavagem de carro de dentro do quarto |
"Às vezes, a família não entende que a pessoa está ali, mas não pode sair da frente do computador para lavar a louça, por exemplo."
Por isso, diz Gerlach, um dos primeiros passos para empreender em casa deve ser conversar com quem mora junto -e fechar a porta do escritório.
FIRMA PRONTA
Muitos empreendedores novatos apelam às microfranquias para ter a estrutura básica da empresa.
É o caso de Kátia Weigland, 39, que buscava um negócio para complementar sua renda como agente de turismo.
Ela investiu cerca de R$ 25 mil em uma franquia da Quinta Valentina, de sapatos, e recebeu um estoque de 80 pares, que armazena em casa.
"Apostei porque o investimento era baixo. Na pior das hipóteses, ficaria com os sapatos", diz.
Weigland usa as redes sociais para receber pedidos e identificar perfis das clientes.
Para as vendas, o contato é mais pessoal. "Vou até as clientes, faço bazares e até as recebo em casa para um café e para apresentar as novidades", afirma.
Weigland lucra cerca de R$ 2.000 mensais e calcula que sua franquia caseira cresça 20% por mês.
Segundo dados da ABF (Associação Brasileira de Franchising), os negócios de "home office" correspondem a 4% do total das franquias.
Nesses casos, os consultores recomendam atenção redobrada para propostas milagrosas, que prometem faturamentos altos com pouca carga horária ou negócios em que a operação pareça fácil demais.
Para isso, o interessado deve checar a fonte das informações passadas pela franquia, como perspectivas de venda do setor e rentabilidade, e conversar com franqueados da marca para saber se a empresa oferece apoio. "Além disso, é indispensável se formalizar e contratar um contador, com referências ou indicação de colegas", afirma Gerlach, do Sebrae.
Ex-proprietário de um lava-rápido, o empresário Alexandre Martin, 44, comprou há dois anos uma microfranquia de lavagem a seco delivery, a Auto Spa.
O escritório fica em seu quarto, o que evita alguns gastos, como aluguel.
A praticidade, contudo, não tornou sua rotina menos agitada. A carteira de 90 clientes exigiu visitas porta a porta e promoções, como lavagens grátis a clientes que indicassem o serviço.
Para conciliar as cerca de dez lavagens por dia, ele faz os agendamentos através do WhatsApp. O faturamento mensal é de R$ 7.000.
"Não existe fórmula mágica", diz a consultora Vecchi. "Ser dono, trabalhar pouco e ganhar muito não existe."
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