Empreendedores e gerentes são diferentes, afirma dono da WPP
Neil Hall/AP | ||
Martin Sorrell, fundador e principal executivo da WPP, durante evento em Londres |
Um assunto é especialmente sensível para Martin Sorrell: o questionamento ao que recebe como principal executivo da WPP, maior grupo de publicidade do mundo.
No ano passado, foram US$ 103 milhões (R$ 328 milhões), um dos pagamentos mais altos do mundo corporativo, valor que desagradou a uma parte dos acionistas da empresa.
Ao rebater as críticas, Sorrell aponta a diferença que enxerga entre empreendedores e gerentes.
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Folha - O sr. foi questionado pelo que recebeu como executivo. O que pensou sobre isso?
Martin Sorrell - Eu comecei a WPP com duas pessoas, eu e mais uma, em 1985, num porão de Londres. Era uma negócio de manufatura na Bolsa de Valores, que valia US$ 1,5 milhão e hoje vale US$ 30 bilhões. Eu não vou pedir desculpas por isso.
Toda a minha riqueza está na empresa. Investi dinheiro no negócio, fiz isso no começo e diversas vezes. Eu me divorciei cerca de dez anos atrás e tive que vender ações, mas foi isso em 31 anos. Estou totalmente comprometido com o negócio, todo o meu dinheiro. Tenho uma pequena casa em José Ignacio, no Uruguai, é verdade. Nada esbanjador, uma pequena casa. Não tenho um museu ou uma grande coleção de arte. 95% do meu dinheiro está na empresa e tem estado lá por 31 anos.
Outra coisa é que empregamos 190 mil pessoas. Vamos dizer que sejam 200 mil e vamos assumir que cada unidade familiar tem três pessoas. Isso significa que 600 mil pessoas dependem da empresa. Isso é bom. No Reino Unido, nos últimos quatro anos, fomos de 12 mil para 16.500 pessoas, num momento em que a economia britânica esteve ok, mas não brilhante. Então não vou pedir nenhuma desculpa por isso.
Editoria de Arte/Folhapress |
Esse tipo de crítica a empreendedores, isso lhe surpreende?
Em alguns países, eles gostam de jogar você para baixo. É inveja, ou como quiser chamar. Nos EUA creio que é verdadeiro que as pessoas celebram o sucesso. Em certa medida, é isso que Donald Trump [empresário candidato à presidência dos EUA] representa. Você pode argumentar se Trump tem tanto sucesso quanto ele diz que tem. Ele afirma que é ótimo, fabuloso, fantástico etc. Podemos discutir se ele é tão fantástico assim. Mas o fato é que nos EUA as pessoas festejam o sucesso.
Quando você falha nos EUA você não é rotulado. Donald Trump quebrou quatro vezes e deu a volta por cima. Mas em alguns países, se você falha, você é rotulado, marcado como gado.
Creio que há uma diferença muito grande aí. Há pessoas que começam negócios, que você chama de empreendedores, o que significa tomar risco, e gerentes. Não estou dizendo que gerentes são uma coisa ruim, eles são uma coisa boa. Mas são diferentes. Nosso negócio funciona 24/7. Com clientes você não pode ir dormir. Não há Natal. Você está sempre de pé. Isso é uma coisa.
A outra coisa, havia um técnico famoso na Inglaterra chamado Bill Shankly. Era treinador do Liverpool, nos tempos em que o Liverpool era realmente bom. Era como um Alex Ferguson dos anos 1970. Ele dizia –isso é bom para o Brasil– o futebol não é uma questão de vida ou morte, é mais importante do que isso. Então a WPP não é uma questão de vida ou morte, é mais importante do que isso. É uma atitude diferente.
Gerentes não são ruins, não estou dizendo que são ruins, são apenas diferentes. Se você começa um negócio, essa é outra analogia, isso é o mais próximo que você pode chegar de ter um bebê. Não fisicamente, mas mentalmente. Porque se você começa algo, você está totalmente comprometido com isso. Voltando à questão da compensação: as pessoas têm que entender essa diferença. Se não entenderem isso, é usar as regras dos gerentes, você destrói os empreendedores. Ou vocês os destrói ou eles vão para outro lugar.
Eu realmente acho que esse é um grande risco, um problema real. Você não pode aplicar as mesmas regras para todas as situações. Se fizer isso, fica com o mínimo denominador comum, não com o máximo múltiplo comum. O que você deveria estar buscando é o máximo múltiplo comum.
Editoria de Arte/Folhapress |
Eu me sinto realmente obcecado por isso. Faço isso há 31 anos. A vida média de um presidente-executivo é de seis ou sete anos, nos EUA e no Reino Unido. Eu assumi um compromisso de longo prazo. Não é que estou chegando, tomando opções [de ações] e vendendo em dois anos por um lucro gordo. Se as ações sobem, eu me dou bem. Se caem, eu morro. A coisa ruim é que você não recebe crédito por isso.
Warren Buffet escreveu 20 anos atrás: você não daria uma opção a uma instituição a custo zero, então por que faz isso com os gerentes? Por que quando você dá opções aos gerentes, o tempo para exercê-las é usualmente de dez anos, com custo zero. Você não faria isso com uma instituição a menos que cobrasse pelo dinheiro, então por que faz isso com os gerentes? Eu comecei isso há 31 anos, tivemos altos e baixos. Tivemos três recessões.
Claro que fico sensível em relação a isso, provavelmente falei mais aqui do que jamais havia dito a qualquer pessoa. Mas estou muito seguro nesse aspecto. O problema é que você é levado ao menor denominador comum. E o que isso significa? Vai levar as pessoas a negócios privados, para o private equity [gestoras de fundos que compram participações em empresas]. É isso o que vai acontecer.
O que não é bom para a sociedade.
O que o private equity faz é tirar o negócio do mercado, comprar as empresas para fora dele, gastar cinco anos consertando-o, usualmente com muito corte de pessoal, para então vendê-lo de volta, cinco anos depois pelo valor que foi pago. É uma loucura.
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