Contribuinte busca opções para dinheiro repatriado e atrai corretoras
Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas | ||
Programa de repatriação não obriga a transferência do recurso para dentro do país |
O prazo para a adesão ao programa de repatriação de recursos mantidos ilegalmente no exterior se aproxima e os contribuintes começam a avaliar o próximo passo: o que farão com o dinheiro que ficava escondido da Receita.
Embora tenha ficado conhecido como repatriação, o programa não obriga a transferência do recurso para dentro do país. Basta pagar imposto e multa. Uma vez declarado, é decisão do contribuinte trazer o dinheiro ou não.
Assim como o governo espera elevar a arrecadação cobrando 15% em impostos e 15% em multa, o mercado vê o restante dos recursos como "dinheiro novo", alvo de esforços de bancos e corretoras para atraí-lo. A Receita registrou R$ 8,5 bilhões em tributos e multas até sexta (30), o que equivale a R$ 28,5 bilhões em recursos anistiados.
Porque estava na sombra, esse dinheiro tendia a ficar sem grandes movimentações, em renda fixa ou investimentos mais conservadores no exterior, segundo Maria Lopez, diretora do Santander.
"A legalização amplia a liberdade do proprietário, que passa a ter leque maior de investimentos aqui e lá fora. O Brasil atrai por ser um dos juros mais altos do mundo", diz Alexandre Fialho, do Banco Rendimento. Segundo ele, cerca de 80% dos clientes do banco estão trazendo uma parte do recurso, além do valor do imposto e da multa.
Pedro Luzardo, do Modal, vê duas tendências. Quem tem até US$ 3 milhões fora está mais propenso a trazer todo o dinheiro para evitar o custo de manutenção lá fora. "Se não for dinheiro que você quer deixar de herança, sem mexer muito, é melhor trazer para perto", diz ele. Cerca de 70% destes clientes já estão encaminhando um segundo contrato de câmbio para ser usado após a adesão.
E se eu comprasse diamantes? - Brasileiros com dinheiro ilegal buscam saídas para escapar do fisco
Nos casos de patrimônios maiores, o interesse cai. "Quem tem patrimônio maior fora ainda não está trazendo nada. Estes, geralmente já estão mais estruturados e protegidos por lá", diz Luzardo.
Rodrigo Marcatti, diretor do Banco Fator, confirma a tendência de que os volumes maiores por ora permaneçam fora, motivados também pela desconfiança com o Brasil. Ele prevê outro movimento, de troca de bancos ainda no exterior. "Muita gente achava que estar em bancos desconhecidos era menos visado. Mas depois de se regularizarem, vai ter migração para bancos mais conhecidos, com assessorias melhores, ou bancos que não sejam só regionais, mas que tenham operação aqui no Brasil", diz.
Lopez pondera que, após o processo de regularização, será possível estudar as carteiras de clientes e sugerir o reequilíbrio dos patrimônios. "O ideal é ter 15% a 20% dos recursos fora, conforme o perfil do cliente. Após a regularização, pode ser que a gente se depare com clientes que tinham, na verdade, 60% fora. Aí recomendaremos propostas de realocação", diz.
Luiz Gustavo Bichara, do Bichara Advogados, alerta para os custos. "Quem tem dinheiro em offshore e quer trazer deve antes transferir para sua pessoa física, situação em que pode incidir mais 27,5% de imposto sobre essa distribuição de dividendos, se a operação não for planejada."
-
PERGUNTAS E RESPOSTAS Sobre o programa de repatriação de recursos
O que é a repatriação?
O programa oferece anistia a contribuintes que declararem bens e recursos mantidos ilegalmente no exterior e pagarem 15% de Imposto de Renda e 15% de multa
Qual a controvérsia?
A Receita Federal quer que o imposto e a multa sejam calculados sobre valores movimentados fora do país de 2011 a 2014, ou seja, o "filme". Deputados querem mudar a lei para que seja atingida apenas a "foto", ou seja, os saldos disponíveis no dia 31 de dezembro de 2014
E se não houver dinheiro?
Se não houver nada em 2014, os deputados propõem que sejam declarados saldos dos anos anteriores, até 2010
O que o governo quer?
O objetivo principal é arrecadar para cobrir o rombo nas contas do governo, que espera conseguir com o programa cerca de R$ 25 bilhões. A equipe econômica teme perder receita com as mudanças feitas na Câmara
Qualquer um pode aderir?
Não. Contribuintes condenados por sonegação e outros crimes previstos pela lei que criou o programa, detentores de cargos públicos, políticos com mandato e seus parentes não podem. Deputados querem liberar a participação de políticos
Qual o prazo para aderir?
O prazo termina no dia 31 de outubro, mas a Câmara quer adiá-lo para 16 de novembro
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Calculadoras
O Brasil que dá certo
s.o.s. consumidor
folhainvest
Indicadores
Atualizado em 31/05/2024 | Fonte: CMA | ||
Bovespa | -0,49% | 122.098 | (17h37) |
Dolar Com. | +0,78% | R$ 5,2497 | (17h00) |
Euro | +1,19% | R$ 5,6856 | (17h30) |