Dinheiro brasileiro legal em paraísos fiscais cresce com a crise
Reuters | ||
Ilha do ilusionista David Copperfield nas Bahamas |
A concentração de dinheiro brasileiro legal em países conhecidos como paraísos fiscais cresceu durante a crise.
A declaração dos recursos até agora escondidos incentivada pela lei de repatriação deve revelar uma participação ainda maior nesses países, de acordo com especialistas na área.
A soma dos investimentos em Bahamas, Bermudas, Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas, Luxemburgo, Panamá e Suíça era de US$ 156,8 bilhões em 31 de dezembro de 2014 (dado mais recente disponível), o que corresponde a 40,4% do total de recursos brasileiros no exterior, de acordo com o Banco Central.
No ano anterior, o volume de recursos nesses países somava 38,8% do total.
Esse movimento ocorre em um contexto de leve encolhimento do total mantido por brasileiros fora do país, que recuou 1,5% no período, para US$ 388 bilhões.
Já os investimentos nas Ilhas Cayman –destino campeão entre os paraísos fiscais– avançou 16,6%, o que compensou a queda em outros países do grupo.
"Imagina que você tem US$ 1 milhão e quer investir lá fora. Se você faz isso direto do Brasil, tem que pagar 27,5% do rendimento que tiver para a Receita Federal", diz Luiz Bichara, sócio do Bichara Advogados.
"Mas, se montar uma empresa em um paraíso fiscal e declarar suas ações nela, você paga imposto somente se e quando esse dinheiro voltar para o Brasil", completa.
Assim, esses países funcionam como ponte principalmente para pessoas físicas que querem investir nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, afirmam advogados tributaristas.
Por isso, a modalidade mais comum de investimento no exterior é via participação no capital de empresas, das quais quase metade estão no segmento de "serviços financeiros e atividades auxiliares". São as offshores, dizem os advogados.
Esse movimento se intensificou em 2014, quando a crise começou. Temendo o cenário econômico brasileiro, muita gente buscou investimentos em dólar para ter segurança, diz Ana Utumi, sócia do TozziniFreire.
"É provável que seja efeito de um pânico com a valorização do dólar. Quando há crise, as pessoas acham que a segurança maior é fora do Brasil", afirma Utumi.
Há também aqueles que apostaram na valorização futura do dólar diante do real para ganhar com a diferença cambial, comprando a moeda quando ela estava barata para vender na alta.
E saíram ganhando: se em dezembro de 2014, a cotação média do dólar era de R$ 2,64, em dezembro de 2015 ela era de R$ 3,87 –alta de 46,6%.
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