Projeto de educação financeira tira pessoas de baixa renda do vermelho
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Oficina em Campinas para educação financeira voltada a adultos de baixa renda |
Durante boa parte da vida, a aposentada Maria Amélia Aparecida Rodrigues, 61, viveu no vermelho. Fazia compras por impulso e mantinha vários empréstimos consignados ao mesmo tempo.
"Cheguei a dever R$ 1.500 só de juros no cheque especial", diz.
A situação mudou em 2016, quando participou de um projeto-piloto de educação financeira. Durante encontros em uma entidade assistencial de Campinas (SP), onde mora, ela e outros aposentados tiveram orientações de como lidar melhor com o dinheiro.
Segundo ela, o curso serviu para "acordar para a vida" e mudar a relação com as finanças.
"A impressão é que durante a vida inteira joguei dinheiro no lixo", afirmou. "Agora não compro nada se não estiver realmente precisando. Fiz um esforço para quitar dívidas e já voltei ao azul no cheque especial."
O aposentado Benedito Damaceno, 69, de Avaré (SP), terminou em fevereiro a oficina de educação financeira.
"Eu não tinha noção do que gastava nem sabia economizar. Agora coloco tudo no papel e não deixo mais as contas atrasarem", afirma.
Ambos participaram das oficinas desenvolvidas pela AEF-Brasil, entidade que coordena projetos da Estratégia Nacional de Educação Financeira, lançada pelo governo federal em 2010.
Financiadas pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e pela Citi Foundation, as oficinas atenderam 1.500 aposentados com renda de até dois salários mínimos e 1.500 mulheres beneficiárias do Bolsa Família.
A previsão é que mais 5.000 adultos sejam atendidos até 2018.
Nas oficinas, os participantes aprendem a registrar seus gastos e a cortar despesas desnecessárias. Também recebem dicas para economizar, como lavar e passar um maior número de roupas por vez e pegar o troco de uma compra, mesmo que sejam centavos, em vez de balas.
Poupar dinheiro para realizar sonhos, como pagar uma faculdade para o filho ou fazer uma viagem, é outro ponto abordado nos cursos.
Jéssica Luana Ramos de Lima, 24, beneficiária do programa Bolsa Família, fez a oficina no ano passado, em São José dos Campos (SP).
Agora, ela pensa duas vezes antes de comprar. "Por exemplo: se eu ainda tenho um xampu, só vou comprar outro quando acabar."
Com as orientações que recebeu, ela começou a vender cachorro-quente e a trabalhar como manicure para aumentar a renda.
Como Maria Amélia, Damaceno e Jéssica, grande parte dos brasileiros não teve nenhum acesso à educação financeira ao longo da vida. O resultado é o alto nível de endividamento das famílias.
"As pessoas atendidas no projeto descobriram que iniciativas simples fazem muita diferença no orçamento familiar", diz Claudia Forte, superintendente da AEF-Brasil.
Ela destaca a importância da educação financeira para adultos, e não somente para crianças e adolescentes.
Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio), 57,9% das famílias estão endividadas. O percentual daquelas que possuem dívidas ou contas em atraso chega a 23,7%.
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