Inflação acumulada fica abaixo do centro da meta pela 1ª vez desde 2010
A recessão tem cada vez mais pressionado para baixo o índice oficial de inflação no país, o IPCA.
Questões pontuais, como a melhora do preço dos alimentos, o vilão da inflação no ano passado, e quedas na conta de luz e da gasolina ajudaram a desacelerar ainda mais o índice em abril.
O IPCA fechou abril em 0,14%. Nos 12 meses encerrados em abril, o índice ficou em 4,08%, abaixo do centro da meta de 4,5% pela primeira vez nos últimos sete anos.
Inflação - Variação do IPCA, em %
O índice oficial de inflação de abril foi divulgado nesta quarta-feira (10) pelo IBGE.
A crise econômica, o desemprego e o alto endividamento dos brasileiros contribuem para a redução do consumo de produtos e serviços pela população, o que tira a pressão dos preços.
Em agosto do ano passado, a inflação em 12 meses estava em 8,97%. A partir daquele mês, a taxa anualizada iniciou trajetória de desaceleração constante.
O componente dos alimentos, que ajudou a manter a inflação alta no ano passado a despeito da recessão, não se manteve neste ano.
Questões climáticas prejudicaram a safra em todo o país em 2016, o que elevou o preço dos alimentos e da ração animal, deixando mais caras as carnes e o leite.
Neste ano, porém, o país verificou um fenômeno chamado de "supersafra", com maior produtividade, o que fez cair o preço de diversos itens que pesam no bolso do brasileiro.
Os dois fatores —recessão e menor pressão de alimentos— explicam a trajetória do indicador.
MENOR ABRIL DO REAL
O IPCA de abril foi o menor para o mês desde o Plano Real (1994). Influenciaram os preços da energia elétrica, que recuaram 6,39%, e da gasolina, que caíram 1,95%.
Os dados vieram em linha com o que esperava o mercado. Analistas preveem que a inflação feche o ano em torno de 4%. A melhora dos índice de preços, dizem analistas, abre espaço para cortes maiores na taxa básica de juros, hoje em 11,25%.
"A gente não poderia passar impunemente pela maior recessão da história sem que houvesse esse movimento forte de freio da inflação", disse Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Simultaneamente à queda da inflação, o Banco Central tem promovido corte dos juros. Em situações normais da economia, a redução na taxa básica poderia estimular o consumo e, por sua vez, pressionar a inflação. Para Vale, há espaço para queda dos juros a patamares de um dígito.
"Não há esse risco no Brasil porque as indústrias estão com capacidade ociosa muito grande e o desemprego continua alto. É difícil prever uma alta na inflação com a retomada da economia."
Para o analista Marcio Milan, da consultoria Tendências, a expectativa é que a inflação não registre grandes alterações ao longo do ano, quando considerada em 12 meses. A partir de agosto, disse ele, quando as indústrias começam a se preparar para as vendas de fim de ano e alguns produtos entram na entressafra, o indicador pode sofrer pressão, mas nada forte.
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