Gigante da publicidade anuncia saída, e Cannes vai discutir seu futuro
Geoffroy Van Der Hasselt - 31.mai.17/AFP Photo | ||
O novo presidente do Grupo Publicis, Arthur Sadoun, que anunciou ausência em Cannes em 2018 |
O tradicional festival internacional de publicidade Cannes Lions encerrou neste sábado (24) sua 64ª edição com uma grande incerteza sobre seu futuro.
Na véspera, a Ascential Events, empresa britânica que organiza o evento, anunciou a criação de um comitê consultivo para "pensar o futuro" e garantir que ele "siga atendendo às necessidades da indústria".
Formado por anunciantes, parceiros, redes de agências e o prefeito de Cannes, o comitê e a disposição ao diálogo são uma resposta ao movimento dos grandes grupos de suspender ou reduzir os gastos com inscrições.
O festival fatura mais de US$ 60 milhões a cada edição e tem como principal fonte de receita as inscrições de peças por parte das agências. Cada inscrição custa de R$ 1.700 a R$ 6.000.
Na quarta-feira (21), o novo presidente do Grupo Publicis, Arthur Sadoun, que assumiu o cargo há três semanas, provocou um tsunami ao anunciar que em 2018 o grupo ficará de fora de Cannes e de outras premiações.
Estima-se que só em Cannes o conglomerado francês, o terceiro maior do mundo, com faturamento de US$ 10,86 bilhões, invista cerca de US$ 2,2 milhões com inscrições —considerando passagens e estadia para os publicitários, o valor sobe para US$ 20 milhões.
Premiação mais badalada do setor, Cannes representa 25% dos investimentos da Publicis com festivais por ano.
Martin Sorrell, presidente-executivo do conglomerado britânico WPP, o maior do mundo, também sinalizou que o festival deve ser repensado pois se tornou "um modo de ganhar dinheiro".
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Ele questionou até a localização do evento, que poderia acontecer em outro país, considerando que "junho em Cannes não é o lugar mais barato do mundo para estar".
Maior grupo de publicidade do mundo, o WPP é também o que mais investe em Cannes, mas neste ano reduziu de 1.000 para 500 o número de delegados enviados para o evento.
No entanto, em uma entrevista após sua apresentação no festival, Sorrell disse que não pretende seguir os passos da Publicis.
"Sabemos que a nossa gente curte isso aqui [Cannes] e tem orgulho de subir no palco quando ganha um prêmio. Igualmente, os clientes também gostam. Eu diria até que amam. Ao boicotar totalmente, você destrói esse valor, e acho que isso está errado."
Eric Gaillard - 23.jun.17/Reuters | ||
Martin Sorrell, presidente-executivo do conglomerado britânico WPP, em Cannes |
NOVA PLATAFORMA
O presidente do Grupo Publicis justificou a ausência em 2018 afirmando que a empresa vai concentrar a energia e os recursos no lançamento de uma plataforma de inteligência artificial chamada Marcel.
No entanto, analistas que acompanham o setor dizem que a redução dos gastos visa pura e simplesmente melhorar o resultado final do balanço do grupo.
A Ascential, a organizadora do festival, viu suas ações caírem 3% no dia do anúncio da Publicis.
A empresa vem batendo recordes de faturamento ano a ano. Só em 2016, as receitas subiram 18%. As deste ano ainda não foram anunciadas. O número de inscrições, que vinha crescendo, caiu 4,5% em relação a 2016, para 41.170 —embora o valor das taxas de inscrição tenha aumentado.
A estratégia adotada nos últimos anos para ampliar as inscrições e as receitas foi a de criar novas categorias e subcategorias e até subfestivais, como o Lions Health.
Mas a estratégia parece ter chegado ao limite da capacidade de investimento das agências e neste ano o número de categorias se manteve inalterado.
"Tem havido muita discussão nesta semana [passada] sobre a estrutura do festival e nós queremos criar a experiência certa de Cannes Lions para todos os participantes. A coisa que une todos é a crença na criatividade como uma força poderosa, e isso está no cerne de tudo o que nós fazemos", afirmou o presidente-executivo da Ascential, Philip Thomas, ao anunciar a criação do comitê.
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