Fim de vantagem demográfica exige mudanças urgentes na América Latina
Mariana Bazo/Reuters | ||
Aposentados peruanos fazem reunião na cidade de Lima para discutir melhorias no sistema de aposentadorias do país |
A América Latina precisa de mudanças urgentes em suas políticas públicas a fim de reconduzir o nível de crescimento ao patamar que ocupava nos anos de preços altos para as commodities.
O tempo está se esgotando, pois a vantagem demográfica da região (período em que o número de trabalhadores ativos supera o de aposentados) chegará a um pico em 2020, segundo o Banco de Desenvolvimento Interamericano.
Isso pressiona os governos, pelos dois lados. Eles se veem forçados a cobrir os custos cada vez mais altos de previdência e saúde dos idosos, ao mesmo tempo em que sua população em idade de trabalho começa a cair, em termos proporcionais.
Mesmo que novas políticas fossem adotadas hoje, seriam precisos anos para que a infraestrutura necessária fosse construída, e uma geração seria necessária para educar a força de trabalho.
A urgência da mudança de políticas era mais fácil de ser ignorada durante a bonança das commodities.
Naqueles anos, as exportações de soja, petróleo e minério de ferro, principalmente para alimentar a China, levaram a América Latina a crescer mais que o dobro da média dos países desenvolvidos.
POUCO INVESTIMENTO
Um dos problemas da região é que, desde a crise financeira mundial, ela vem dependendo do consumo e de gastos governamentais para crescer, afirmou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
O investimento privado, necessário para sustentar o crescimento em longo prazo, ficou consistentemente para trás do de outros emergentes.
O desafio de atrair investimentos explica, em larga medida, por que o Brasil está enfrentando dificuldades para sair da pior recessão de sua história e por que a recuperação Argentina depois de um período de contração será menor do que o governo esperava originalmente.
"Não investimos o suficiente, não poupamos o suficiente, não comercializamos o suficiente, não educamos o suficiente. O que se pode esperar? Não vamos crescer o suficiente", disse Alberto Ramos, economista-chefe do banco Goldman Sachs para a América Latina.
"Não é um quebra-cabeças econômico. Sabemos o que precisa ser feito, mas não estou otimista. Se não for, a região continuará a perder, década após década, e continuará a ficar para trás."
O FMI (Fundo Monetário Internacional) também está lançando alertas.
O crescimento da renda per capita latino-americana será de em média 1,6% ao ano em médio prazo, o mesmo ritmo registrado nos últimos 25 anos, e bem abaixo da média de 2,6% estimada para os países de desenvolvimento.
Segundo estudo do FMI, "as perspectivas de longo prazo para o crescimento da América Latina parecem mais sombrias agora do que eram há alguns anos, no pico do boom de preços das commodities".
"O que preocupa é que os números do crescimento são essencialmente iguais aos dos países avançados", escreveu Alejandro Werner, diretor do FMI para o hemisfério Ocidental, no relatório.
Shelly Shetty, diretora de títulos de dívida pública latino-americana na agência de avaliação de risco Fitch Ratings, diz que o baixo crescimento da região também deriva de ambientes empresariais difíceis em alguns países, abertura limitada ao comércio internacional, melhora lenta na produtividade e demora generalizada nas reformas estruturais.
BOA NOTÍCIA
A boa notícia, de acordo com ela, é que alguns países conseguiram avanços em termos de estabilidade macroeconômica e agora, enfim, há nações que começam a responder aos alertas.
"Agora que as perspectivas de crescimento diminuíram em diversos dos países, estamos vendo os governos cada vez mais concentrados em estimular o crescimento potencial", disse Shetty.
"Reformas estruturais que não estavam ganhando empuxo algum nos anos do superciclo das commodities estão enfim em discussão. Mas, em última análise, aprovar reformas é uma coisa; implementá-las será outro desafio."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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