Dirigente regional acusa presidente da Bolívia de massacre
O governante do departamento boliviano de Pando, Leopoldo Fernández, opositor do presidente da Bolívia, Evo Morales, acusou o governo central de planejar o que qualificou de massacre ocorrido em sua região.
Morales decretou ontem estado de sítio em Pando e hoje anunciou que 16 pessoas morreram nos confrontos na região. A agência Associated Press aponta 18 mortos. O departamento faz fronteira com o Estado brasileiro do Acre.
Entenda os protestos contra Morales na Bolívia
Martin Alipaz /Efe |
Presidente da Bolívia, Evo Morales, foi acusado de massacre em departamento |
Na Bolívia, o estado de sítio, entre outros pontos, proíbe o porte de armas de fogo, armas brancas ou explosivos; e a circulação de grupos de mais de três pessoas e de veículos da 0h às 6h. Fica proibido ainda fazer reuniões políticas e deixar a região sem salvo-conduto.
Fernández disse que setores simpatizantes a Morales estavam armados há dias, segundo a agência Efe.
"[As mortes] obedecem a uma estratégia planejada pelo governo que já vinha sendo implementada há muito tempo", afirmou Fernández durante entrevista à rádio Fiders, de acordo com a Efe.
"Havia uma intenção de criar uma indisposição na população contra o governo departamental para nos jogar a culpa de tudo", disse Fernández, que ainda agregou que o Executivo se aproveitou do conflito para decretar o estado de sítio.
O governo justificou a medida extraordinário com o crescente número de vítimas na localidade de Porvenir, próxima a Cobija, capital de Pando.
Fernández também acusou as Forças Armadas de testemunharem confrontos e não fazer nada para evitar a violência entre partidários de Morales e opositores.
Brasil
Reuters |
Pessoas observam estragos após protestos em Cobija, departamento boliviano de Pando |
O governante do departamento fronteiriço negou na entrevista informações de que ele fugiria com alguns dirigentes para o Brasil.
Fernández também disse que é a favor de recorrer a instâncias totalmente imparciais para investigar os ocorridos em sua região.
Cochabamba
O corte de abastecimento de gás natural e gasolina, causados pela situação tensa na Bolívia, deixou quase que paralisada a cidade de Cochabamba e parte da indústria que depende do fornecimento teve de suspender suas atividades, segundo o jornal boliviano "La Razón".
A interrupção do abastecimento também afetou Argentina e Brasil.
No Brasil, em visita à Petrópolis, na região serrana do Rio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um "[apelo]": à Bolívia para que o acordo de fornecimento de gás ao Brasil seja respeitado.
Diálogo
O governo da Bolívia e o governador de Tarija, Mario Cossío, líder da oposição, concordaram, em reunião que se estendeu até a madrugada deste sábado, em dar continuidade ao diálogo na tentativa de pacificar o país. Um novo encontro deve ocorrer amanhã (14), em La Paz, desta vez com a possível participação do presidente Evo Morales.
Na reunião de ontem, Cossío e o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, concordaram quanto à necessidade de alcançar um acordo que permita a recondução da crise.
As bases do diálogo entre governo e seus opositores autonomistas seriam, segundo Cossío, a receita petrolífera do Imposto Direto sobre Hidrocarbonetos (IDH), cuja devolução é reivindicada pelos departamentos, a nova Constituição do país e os estatutos autônomos defendidos por Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija.
Crise diplomática
Ao crescente clima de tensão interna, Morales somou um forte atrito diplomático com os Estados Unidos. Ele expulsou o embaixador americano em La Paz, Philip Goldberg, sob a acusação de conspirar e promover a divisão na Bolívia.
Os EUA responderam afirmando que a decisão de Morales representou um "grave erro". O porta-voz do Departamento de Estado americano, Sean McCormack, disse que o ato "danificou seriamente a relação bilateral".
Um dia depois, o governo americano decidiu expulsar o embaixador boliviano em Washington, Gustavo Guzman.
Em solidariedade à Bolívia, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ordenou ontem a expulsão do embaixador americano em Caracas, Patrick Duddy. Ontem, os EUA expulsaram o embaixador venezuelano em Washington, Bernardo Alvarez Herrera.
Com Efe e "La Razón"
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis