A caminho da África, papa diz que distribuição de preservativos não controla Aids
O papa Bento 16 afirmou nesta terça-feira que a Aids não será controlada somente com a distribuição de preservativos, já que a solução é "humanizar a sexualidade com novos modos de comportamento". O pontífice viaja para Camarões, sua primeira viagem ao continente africano, onde a Aids tem um impacto devastador.
Em entrevista concedida a jornalistas que o acompanham no avião papal rumo à África, o pontífice disse que as propostas vindas de diversas partes da sociedade na luta contra a Aids não são "nem realistas, nem eficazes" e que a política da Igreja Católica é a mais eficaz nesse aspecto.
"A Aids é uma tragédia que não pode ser resolvida apenas com dinheiro, que não pode ser resolvida com a distribuição de preservativos, que inclusive agrava os problemas", disse o papa.
Bento 16 afirmou ainda que a solução passa por um "despertar espiritual e humano" e pela "amizade com os que sofrem".
A Aids atinge principalmente os países do sul do continente, como Botsuana, Suazilândia e África do Sul.
Polêmica
Perguntado sobre as manifestações divulgadas recentemente na imprensa que dizem que o pontífice está isolado por causa da polêmica gerada em torno da revogação da excomunhão de bispos linha dura, incluindo o bispo Richard Williamson, que negou o Holocausto, Bento 16 afirmou que tem "vontade de rir".
"Não estou só, tenho colaboradores muito válidos. Todos os dias, recebo o secretário de Estado, o cardeal [Tarcisio] Bertone, os bispos e o pessoal da Cúria. Vejo regularmente todos os prelados do mundo", disse o papa, a caminho da capital de Camarões, Iaundé, sua primeira parada na visita à África.
Crise
Questionado sobre a crise econômica mundial, Bento 16 afirmou a ida à África não tem nenhum programa de cunho político ou econômico. "Vou com um programa religioso, de fé e de moral", disse o papa, para afirmar depois que a crise mostrou que há certa ausência de crítica no mundo da economia.
Bento 16 defendeu ainda a renovação do sistema econômico e fez uma chamada à solidariedade internacional, diante de uma crise que o fez mudar seus planos de publicar uma Encíclica que está preparando.
Segundo o pontífice --que também falará sobre corrupção na África--, a Igreja Católica tem um grande papel no continente onde existe uma necessidade de respeito recíproco e de diálogo entre as diferentes religiões.
Sobre o papel desempenhado pelas seitas, Bento 16 disse que estas oferecem "milagres e prosperidade rápida", que acabam por se diluir.
Viagem
Esta será a primeira viagem de um pontífice ao continente desde março de 1998, ocasião em que João Paulo 2º visitou a Nigéria e beatificou Cyprian Michael Iwene Tansi, um monge nigeriano que morreu em Londres em 1964.
Mesmo depois de mais de uma década, muitos problemas econômicos, sociais e políticos da África parecem continuar no mesmo patamar. Um documento do Vaticano preparado para a ocasião ressalta que avançam a corrupção, o mau governo, a desigualdade social, as doenças, a pobreza e a distância cada vez maior entre governantes e cidadãos.
Além disso, guerras e conflitos continuam tendo força, acordos de paz e tréguas não são respeitados por muito tempo e as violações dos direitos humanos se perpetuam diante da indiferença da comunidade internacional.
Mesmo diante deste cenário, o papa reconheceu a "enorme potencialidade e esperança" do continente africano. Segundo o porta-voz vaticano, Federico Lombardi, o papa pedirá "reconciliação, paz e justiça" para os povos da África --esse é o lema do Sínodo.
Expansão
A reunião será celebrada em um momento de expansão do catolicismo na África. O número de católicos cresceu 3,1% nos últimos anos e, segundo dados do Vaticano, a República Democrática do Congo (97 milhões de fiéis), Uganda (56 milhões) e Nigéria (47 milhões) estarão entre os dez maiores países católicos do mundo em 2050.
A Igreja Católica considera a explosão do catolicismo na África Subsaariana durante o século 20 como um dos maiores sucessos missionários em sua história. O número de fiéis na região passou de 1,9 milhão, em 1900, para 139 milhões, no final do ano 2000.
Na África, o catolicismo enfrenta a concorrência dos cultos animistas locais, do Islã --um em cada três africanos é muçulmano --e da recente penetração das igrejas pentecostais vindas da América.
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