Ahmadinejad assume polêmico segundo mandato; oposição nega fim de protestos
O ultraconservador presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pronunciou nesta quarta-feira um discurso duro contra a oposição no seu juramento diante do Parlamento, um ato protocolar para que assuma segundo mandato após uma reeleição contestada pela oposição por fraude. O principal líder dos opositores, o reformista e candidato derrotado, Mir Hossein Mousavi, afirmou que o movimento continuará apesar da consagração de Ahmadinejad e da violência com a qual os protestos pós-eleição foram reprimidos.
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"A epopeia da eleição presidencial de 12 de junho é o início de mudanças importantes no Irã e no mundo", disse o presidente diante de um Parlamento esvaziado --embora não haja confirmação oficial, a oposição boicotou a cerimônia.
Vahid Salemi/AP | ||
Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, faz discurso de posse; oposição diz que manterá movimento |
"Resistiremos aos [países] opressores e vamos continuar atuando para mudar os mecanismos discriminatórios no mundo, em benefício de todas as nações", afirmou Ahmadinejad, que também rejeitou a decisão dos Estados Unidos e outros países ocidentais de não felicitá-lo --prática comum na diplomacia.
O polêmico Ahmadinejad foi reeleito em pleito do dia 12 de junho passado, com cerca de 63% dos votos contra 34% do principal candidato da oposição, Mir Hossein Mousavi.
A votação foi seguida por semanas de fortes protestos da oposição por fraude. Os protestos, enfrentados com violência pela polícia e a milícia Basij, ligada à Guarda Revolucionária, deixaram ao menos 20 mortos, dezenas de feridos e centenas de presos.
O Conselho dos Guardiães do Irã, órgão responsável por ratificar o resultado do pleito, aceitou fazer uma recontagem parcial dos votos para acalmar a oposição, mas confirmou a reeleição de Ahmadinejad depois de afirmar que a fraude em cerca de 3 milhões de votos não era suficiente para mudar o resultado das urnas.
Ahmadinejad, 53, fez um discurso no qual prometeu levar o país adiante e no qual usou um tom de união nacional, algo que parece difícil diante da contestação pela oposição iraniana da legitimidade de seu segundo mandato.
"Quem votou em quem. Esta não é a questão", disse. "Hoje nós precisamos de uma nação. Hoje nós precisamos unir forças", completou.
Segundo a agência France Presse, várias personalidades do regime não assistiram à cerimônia --entre elas, o ex-presidente Akbar Hachemi Rafsanyani, que preside duas instituições importantes no regime, o reformista e candidato derrotado Mehdi Karubi, o ex-presidente reformista Mohamad Jatami, e Mousavi.
Protestos
Mousavi aproveitou o momento para ressaltar que a prisão de manifestantes da oposição --centenas desde os protestos e dez só nesta quarta-feira-- não impedirá o movimento da oposição.
Segundo declaração publicada em seu site, Mousavi afirma que viu "o nascimento de um forte sentimento nacional" após as eleições, que "reuniu diferentes grupos da sociedade."
"Alguns pensaram que, detendo as pessoas que creem que lideram os protestos, a questão será resolvida. Mas o movimento continuou no país e demonstrou que as prisões não surtem efeito", disse.
Nos arredores do PArlamento, que teve segurança reforçada, centenas de manifestantes foram dispersados. Segundo uma testemunha --o Irã proibiu a cobertura da imprensa estrangeira no país--, elas gritavam frases contrárias a Ahmadinejad.
A polícia lançou gás lacrimogêneo e prendeu ao menos dez pessoas. As forças de segurança estavam também nas principais avenidas e praças do centro da capital Teerã, cenário das semanas de protestos.
Com France Presse
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