Em cúpula, Obama quer apoio de líderes para reduzir armas nucleares
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pedirá nesta segunda-feira a representantes de 47 países o fim dos arsenais nucleares e tentará encerrar o evento com um documento abrangente para evitar que terroristas tenham acesso a este tipo de arma. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já chegou aos EUA para participar do encontro.
Apesar do pedido de Obama para que o encontro de dois dias não acabe em um texto vago, são poucas as chances de que o encontro entre países com realidades tão diferentes acabe em políticas amplas ou ousadas.
Mas a própria realização da cúpula já é tida como um passo importante para intensificar o foco global em uma das mais graves ameaças de proliferação nuclear --os atores não-estatais, como a rede terrorista Al Qaeda, com acesso a materiais nucleares.
"A maior ameaça à segurança dos EUA, tanto a curto prazo, médio prazo e longo prazo, seria a possibilidade de uma organização terrorista obter uma arma nuclear. Isso é algo que poderia mudar o panorama de segurança nesse país e ao redor do mundo para os próximos anos", disse Obama, que realizou uma série de encontros bilaterais com líderes mundiais neste domingo.
"Nós sabemos que as organizações como a Al Qaeda estão em processo de tentar conquistar armas nucleares ou outras armas de destruição em massa, e não teriam nenhum escrúpulo em usá-las", disse Obama.
O presidente fixou uma meta de garantir que todos os materiais nucleares no mundo estejam protegidos contra roubo ou desvio no prazo de quatro anos.
Na mesa, também estará a suposta tentativa do Irã de construir uma arma nuclear, em violação do Tratado de Não Proliferação Nuclear global, e o estoque de armas nucleares da Coreia do Norte, além de exportação de materiais e tecnologia nucleares.
"Nós queremos chamar a atenção do mundo onde achamos ser necessária com os esforços contínuos da Al Qaeda e outras para obter o material nuclear suficiente para causar estragos terríveis, destruição e perda de vida em algum lugar do mundo", disse a secretária de Estado americana, Hillary Rodham Clinton, em uma entrevista transmitida domingo no programa da rede ABC "This Week".
Hillary afirmou que o encontro seria a maior reunião de líderes mundiais hospedada por um presidente americano desde 1945, quando houve a conferência de San Francisco que fundou as Nações Unidas.
Obama procurou dar o tom do encontro com as reuniões bilaterais de domingo com os líderes da Índia e do Paquistão --vizinhos com armas nucleares e muita proximidade com grupos terroristas-- assim como a África do Sul e do Cazaquistão, que desistiram dos programas de armas nucleares.
Jogo diplomático
Um dos desafios desta cúpula será o Paquistão, que tem uma história conturbada com os Estados Unidos e sentimento antiamericano é extremamente elevado entre os paquistaneses comuns.
Os líderes americanos fazem de tudo para garantir ao Paquistão que os EUA focam em melhorar o relacionamento bilateral. O Congresso dos EUA já se comprometeu com bilhões de dólares em ajuda ao país.
Os EUA precisam que o Paquistão ajude na luta contra a Al Qaeda, que encontra refúgio seguro da guerra do Afeganistão nas vilas tribais da fronteira.
Já Irã e Coreia do Norte não foram convidados porque eles são vistos como violadores do acordo de não-proliferação. Síria foi deixado fora da lista de convidados, porque os EUA acreditam que Damasco também tem ambições nucleares.
Israel, entretanto, disse na semana passada que o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, não participará da conferência como previsto.
Em seu lugar, participará o vice-primeiro-ministro e ministro israelense de Serviços de Inteligência, Dan Meridor, assim como o diretor da Agência Israelense para a Energia Atômica, Shaul Horev, e o assessor de Segurança Nacional de Netanyahu, Uzi Arad.
Netanyahu teme uma "emboscada" na qual vários países árabes e muçulmanos --liderados por Egito e Turquia-- querem exigir a inclusão de Israel no Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
Israel, que mantém há décadas uma política de ambiguidade em assuntos relacionados com este tipo de arsenal, poderia ter entre 200 e 300 ogivas nucleares, segundo especialistas.
Jantar
Obama abre a conferência nesta segunda-feira com um jantar de trabalho, e atende individualmente durante o dia os líderes da Jordânia, Malásia, China e Armênia.
As sessões de terça-feira serão encerradas com uma declaração conjunta sobre os esforços para impedir a transferência de materiais nucleares e tecnologia.
A conferência de Washington é a quarta etapa da campanha de Obama para livrar o mundo de armas nucleares --utilizadas apenas pelos EUA para forçar a rendição japonesa na Segunda Guerra (1939-1945).
O objetivo maior, que o presidente admite que provavelmente não será cumprido no médio prazo, começou há um ano em Praga, quando ele estabeleceu planos para reduções significativas de arsenais nucleares.
Neste tempo, ele aprovou uma nova política nuclear dos EUA prometendo reduzir o arsenal nuclear nacional, abster-se de testes nucleares e não usar armas nucleares contra países que não os têm --lista que exclui Irã e Coreia do Norte.
Dois dias depois, no aniversário do discurso em Praga, Obama voltou à cidade tcheca para assinar, ao lado do presidente russo, Dmitri Medvedev, o tratado Start 2, que reduz o arsenal nuclear de cada lado a 1.550 ogivas.
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