Dissidentes mostram ceticismo sobre reforma migratória em Cuba
Os dissidentes de Cuba mostraram ceticismo em relação à reforma migratória feita pelo governo, que entra em vigor nesta segunda-feira. A ilha comunista permitiu pela primeira vez em 50 anos que os cidadãos viajem sem autorização do governo.
Eles acreditam que o controle será feito através da renovação dos passaportes, etapa obrigatória para conseguir a permissão para as viagens ao exterior. Os opositores dizem que o regime comunista não renovará o documento dos adversários políticos.
Adalberto Roque/AFP |
Blogueira opositora Yoani Sánchez concede entrevista após pedir passaporte ao governo em Havana, em Cuba |
Uma delas é a blogueira Yoani Sánchez, que foi nesta segunda a um escritório de imigração do governo em Havana pedir a permissão para um novo passaporte. O prazo apresentado pelo governo foi de 15 dias, mas ela se mostra cautelosa.
"Perguntei aos funcionários se eu poderia viajar e eles me disseram que sim, mas só vou acreditar quando estiver dentro do avião. Tenho esperança, mas mantenho a cautela".
A líder das Damas de Branco, Berta Soler, disse que queria viajar a Estrasburgo, na França, para receber o prêmio Sakharov, do Parlamento Europeu, que o grupo opositor ganhou em 2005. Elas não pegaram a honraria devido às proibições do governo cubano.
Ela disse que esperará até fevereiro para pedir um passaporte, mas acha que a reforma migratória mantém um filtro para selecionar quem pode ou não sair do país.
FILAS
Após a implantação das novas regras, centenas de cubanos lotaram as agências de viagens, os escritórios de migração e as representações diplomáticas dos Estados Unidos e da Espanha em Havana. Os funcionários dos órgãos dizem, no entanto, que o movimento é normal.
No aeroporto da capital, não há movimento maior, especialmente por causa do número pequeno de países que não exigem vistos. Apenas pequenos países que pertenciam ao bloco comunista e pequenas ilhas no Caribe liberam os cubanos sem autorização prévia.
As novas regras permitem que os cubanos possam viajar ao exterior apenas com o passaporte e, se for o caso, com o visto correspondente ao exigido pelo país de destino.
Também foram eliminados dois documentos --a permissão de saída e o cartão branco-- que até hoje eram necessários solicitar para as autoridades cubanas para sair do país, junto a outros documentos como a chamada "carta de convite", que também foi eliminada.
Outra novidade é a ampliação do tempo que um cubano pode permanecer no exterior, que passa de 11 a 24 meses sem a necessidade de prorrogações. A nova regulação quer, além disso, "normalizar as relações da emigração com sua pátria" e flexibiliza algumas condições para os cubanos que estão no exterior.
Aproximadamente 1,4 milhão de cubanos vivem no exterior, a maioria deles (85,7%) nos Estados Unidos, sendo a maior parte radicada na Flórida.
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