Manifestantes recebem blogueira cubana também em Salvador
A blogueira cubana Yoani Sánchez, 37, desembarcou nesta segunda-feira em Salvador, na Bahia, e foi forçada a sair pelo desembarque de autoridades oficiais por conta de uma manifestação realizada por cerca de 20 simpatizantes do governo cubano.
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Por causa dos protestos, Sánchez teve de ficar por cerca de dez minutos na área do desembarque doméstico do aeroporto da capital baiana. O grupo portava cartazes chamando a blogueira de "mercenária" e gritava: "Cuba, sim! Ianques, não!".
"Um protesto assim contra um convidado do governo cubano não duraria mais que dois minutos", comentou a blogueira. "Eu quero crer que são espontâneos, porque aí se encaixaria na ideia de democracia que esperava encontrar no Brasil", disse, já a caminho de Feira de Santana (a 100 km da capital baiana), onde está previsto para essa noite a exibição do documentário "Conexão Cuba>Honduras", do cineasta Dado Galvão, 31.
Os manifestantes, que não viram Sánchez de perto, chamaram a cubana de "liderança fabricada", acusaram-na de ser "financiada pela CIA" (agência de inteligência dos Estados Unidos) e de "receber salários da SIP [Sociedade Interamericana de Imprensa]". Panfletos contra Yoani foram distribuídos no aeroporto.
"Ela é uma pessoa que recebe dinheiro estrangeiro para difamar o regime cubano", acusou sem provas o estudante Caio Botelho, 25, diretor de Formação Política da UJS (União da Juventude Socialista), entidade ligada ao PCdoB.
No final de semana a revista "Veja" publicou que o embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora Rodrigues, se reuniu em 6 de fevereiro deste ano, na embaixada cubana no Brasil, com militantes do PT e do PCdoB para realizar campanha difamatória contra a blogueira e espioná-la em sua viagem ao país.
Caio Botelho negou que as manifestações contra Sánchez no Brasil tenham sido orquestradas pela embaixada de Cuba, com a participação do governo brasileiro, e que não há nenhum dossiê contra a cubana. "Isso aqui é uma manifestação de simpatizantes do regime cubano", finalizou.
Há anos o governo cubano reúne material supostamente comprometedor contra a ativista cubana, incluindo a listagem dos prêmios que ganhou com o blog. Yohandry Fontana, espécie de "blogueiro oficial" do governo comunista, disponibilizou em janeiro de 2012 em seu blog série de links reunidos sob o título: "Dossiê Yoani Sánchez (Para uso da imprensa)".
O material contém despachos da diplomacia americana vazados pelo WikiLeaks documentando encontros de Sánchez com funcionários americanos. Num deles, a blogueira reclama do que o embargo americano é prejudicial e dificulta compras no estrangeiro com cartão de crédito.
No "dossiê", a reclamação se transforma em pedido de "acesso a fontes de financiamento". Os links envolvem até piadas grosseiras com o marido da blogueira, Reinaldo Escobar.
O cineasta Dado Galvão disse se sentir "com o dever cumprido" com a presença de Sánchez no Brasil. Afirmou que os protestos contra a blogueira são realizados porque "vivemos em um país livre, com democracia". "Gostaria que o regime cubano respeitasse essas manifestações, a liberdade de expressão, como acontece aqui no Brasil", afirmou o cineasta.
ITAMARATY
Nesta segunda, o Itamaraty disse que Yoani Sánchez é bem-vinda ao Brasil, mas evitou comentar suposto plano de espionagem e elaboração de dossiê contra a cubana, que desembarcou hoje no país.
"O Brasil sempre deixou claro que forneceria condições para a blogueira Yoani Sánchez entrar em território nacional. Foi concedido visto a ela em mais de uma ocasião. Ela já se encontra no Brasil", disse nesta segunda-feira o chanceler Antonio Patriota.
O ministro, no entanto, evitou comentar informação, divulgada pela revista "Veja", de que um dossiê contra a blogueira foi distribuído numa reunião na embaixada de Cuba no Brasil. "Sobre esse [movimento de tentar] desmoralizar [Yoani]: não conheço esse movimento, nem tomei conhecimento de nenhuma medida nesse sentido."
Patriota ainda elogiou o pacote de mudanças promovidas pelo presidente Raúl Castro recentemente. "Isso [a vinda de Yoani] é reflexo também de um processo de maior liberdade para os cidadãos cubanos, [o que]tem sido reconhecido internacionalmente até".
Com informações de FLÁVIA FOREQUE, de Brasília.
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