Servidor da Câmara era um dos manifestantes contra blogueira cubana
Entre os manifestantes que provocaram tumulto na visita da blogueira Yoaní Sanchez na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (20), estava um servidor da Casa. Rodrigo Grassi Cademartori, conhecido entre militantes como Rodrigo Pilha, é secretário parlamentar no gabinete da deputada federal Érika Kokay (PT-DF) e estava em horário de trabalho.
Enquanto parlamentares da oposição tentavam iniciar a sessão informal em que Yoani seria ouvida, Rodrigo, com o crachá de servidor escondido por debaixo da camiseta, gritou por diversas vezes, do fundo do plenário, para os parlamentares que comandavam a sessão. "Deixa os movimentos sociais entrarem!", disse, repetidas vezes, aos gritos, acompanhado por outros dois manifestante. Do lado de fora, outros oito tentavam entrar na sala, mas eram impedidos por seguranças.
O protesto contra Yoani não foi o único de Rodrigo no dia. Depois de deixar a sala, ele cruzou por acaso com o deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) em um dos corredores da Casa. A Folha flagrou a cena. Imediatamente, pegou o celular e começou a gravar, em vídeo, uma entrevista improvisada com o deputado tucano.
Rodrigo começou a fazer perguntas sobre o mensalão mineiro, esquema de financiamento irregular da campanha da reeleição de Azeredo ao governo de Minas Gerais, em 1998.
O episódio, que está em tramitação no STF (Supremo Tribunal Federal), sem previsão de julgamento em plenário, é tratado pelo PT como contraponto ao uso político feito pelos tucanos do escândalo do mensalão, que gerou a condenação, no ano passado, de ícones petistas, como o ex-ministro José Dirceu e o deputado José Genoíno (SP). É também visto como embrião operacional do mensalão, já que tinha como peça central o empresário Marcos Valério.
Inicialmente, Azeredo reagiu com tranquilidade à abordagem, constrangido, mas sorrindo. O servidor-manifestante perguntava o que o deputado achava da demora para o julgamento do mensalão mineiro. Depois, passou a insistir em saber se Azeredo "admitia que era o responsável pela criação do mensalão".
Depois de dizer que estava ao lado do "pai do valerioduto", Azeredo se irritou, agarrou o braço de Rodrigo e tomou o celular de suas mãos. "Você está me agredindo, você está me agredindo", repetiu Azeredo, chamando na sequência os seguranças da Casa e devolvendo o celular para Rodrigo.
Abordado pela Folha, o manifestante não quis falar seu nome. "Você quer saber quem eu sou ou o que aconteceu?", perguntou. Depois, se apresentou como Rodrigo Pilha. Posteriormente, a Folha apurou tratar-se do servidor lotado no gabinete de Érica Kokay, com salário de R$ 3.540.
Rodrigo foi um dos líderes, em 2007, do movimento "Fora Arruda", responsável pela ocupação da Câmara Legislativa do DF, em protesto contra o ex-governador José Roberto Arruda.
OUTRO LADO
Rodrigo Grassi disse à Folha que o horário de trabalho na Câmara é "flexível". "Eu trabalho de noite, trabalho aos fins de semana, não tem horário fixo", disse.
Ele buscou isentar de responsabilidade a deputada Érika Kokay. "A atitude [de protestar] foi minha isolada", afirmou. "Se você for legalista ao extremo, não seria eu o primeiro nem o último servidor que faz questionamentos, se manifestando, na Câmara."
Sobre o incidente com Azeredo, disse que estuda processar o deputado. Segundo ele, depois de ser encaminhado à Polícia Legislativa, a assessoria do deputado buscou "abafar" o caso, admitindo que não houve qualquer agressão ao parlamentar.
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