Objetivo de oposicionistas venezuelanos é perder de pouco
Os dias não são difíceis apenas para os chavistas na Venezuela.
Para a debilitada oposição, apresentar um candidato para disputar uma eleição-relâmpago contra um governo turbinado pela comoção pela morte de Hugo Chávez será mais difícil do que foi enfrentar nas urnas o quase imbatível esquerdista nos últimos 14 anos.
Nos partidos da MUD (Mesa de Unidade), a coalizão da oposição, a decisão tomada é apontar o governador de Miranda, Henrique Capriles, como candidato.
Os líderes oposicionistas estão à espera da definição do calendário eleitoral --de acordo com a Constituição, nova eleição presidencial deve ocorrer em 30 dias-- e do fim do período de luto oficial, na próxima semana, para se reunirem e fazer o lançamento da candidatura.
O problema é que o próprio Capriles, que obteve importantes 44% dos votos contra Chávez em outubro, avalia que essa disputa é praticamente perdida.
Segundo a Folha apurou junto a auxiliares próximos, ele preferia não concorrer novamente, mas considera que, como principal nome da oposição, poderá ser obrigado a fazê-lo.
A leitura dos caprilistas é que tudo joga contra a candidatura oposicionista. Uma campanha-relâmpago seria insuficiente para transmitir uma mensagem clara de Capriles, que poderá ser classificado de oportunista e desrespeitoso com Chávez.
A questão não é perder, mas como perder, disse à Folha uma pessoa com acesso às discussões.
Capriles tem se esforçado para encontrar o tom certo. Na terça, dia da morte, foi o primeiro e único líder da oposição a se pronunciar --as palavras foram elogiadas até pelo seu provável oponente nas urnas, Nicolás Maduro.
Segundo um integrante de sua equipe, Capriles preferia até ir ao velório de Chávez, mas, no momento, a opção é vista como problemática. Além da falta de ambiente político para o gesto, ele poderia ser alvo de hostilidades dos seguidores chavistas.
Ante as circunstâncias, a equipe de Capriles crê que a melhor opção é seguir com a estratégia de centrar nos problemas de gestão do governo e martelar as inconsistências de Maduro.
"Vamos em desvantagem, e isso nos preocupa. Mas aceitamos o desafio. O país vai saber mais cedo do que tarde que uma coisa é Chávez, outras são seus sargentos. Maduro será ajudado pela comoção, mas é um candidato limitado", diz Eduardo Semtei, ex-chavista e hoje um articulador entre opositores.
Semtei defende que a oposição faça um amplo apelo a organizações internacionais, incluindo o Mercosul, para exigir que as condições da campanha eleitoral sejam mais equânimes e sem intimidações. (FLÁVIA MARREIRO)
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis