EUA já mostram sinais de retomada, dizem analistas
O presidente americano Barack Obama finalmente conseguiu reverter parte da "herança maldita" de seu antecessor, George W. Bush. Em fevereiro, a taxa de desemprego atingiu o nível mais baixo em quatro anos, de 7,7%.
A queda do desemprego, aliada à alta do índice Dow Jones, que atingiu nesta semana o maior nível desde outubro de 2007, e o vigor no mercado imobiliário espalharam o otimismo pelo mundo.
Mas será que já se pode abrir o champanhe e comemorar a volta por cima da economia dos Estados Unidos?
Para os economistas conservadores, o otimismo é justificado e os EUA estão em um caminho sustentável de recuperação. Já economistas à esquerda acham que o sequestro --o corte obrigatório de verbas federais após Congresso e Casa Branca falharem em desenhar um pacote fiscal para redução de gastos-- vai abortar a recuperação e os EUA vão voltar para taxas anêmicas de crescimento.
"Não acho que o 'sequestro' atrapalha; acho até que é um freio saudável nas incessantes altas nos gastos do governo", disse à Folha Michael Shaoul, presidente da Marketfield Asset Management. "A recuperação parece sustentável,e o setor imobiliário está retomando um ritmo vigoroso em partes do país."
David Stockton, pesquisador do Peterson Institute for International Economics, também está otimista. "O setor imobiliário é o principal motor do crescimento, mas também vemos sinais de força em gastos de consumidores em bens duráveis; isso mostra que os americanos conseguiram em grande parte consertar seus balanços, se desendividar um pouco", disse à Folha. "E, com os juros baixos e os bancos cada vez mais dispostos a conceder crédito, muitos lares podem agora aumentar o consumo."
Um sinal positivo é a recuperação da "riqueza". Os lares americanos aumentaram seu endividamento para o maior nível em cinco anos, ao mesmo tempo em que sua riqueza (ativos menos passivos) bateu no nível mais alto desde a recessão.
Graças à alta nos preços dos imóveis e das ações, a riqueza dos americanos subiu, e eles estão mais predispostos a gastar --logo depois da recessão, eles tentavam apenas se desendividar.
SENÕES
Mas há obstáculos. Mesmo os animadores números de emprego mostram que o tamanho da força de trabalho continua a diminuir. Muitos americanos, desestimulados, param de procurar trabalho --e saem, assim, da estatística de desemprego.
Além disso, o aumento nos impostos que entrou em vigor na virada do ano e os cortes de gastos previstos no sequestro ainda não se refletiram nos números.
Dean Baker, codiretor do Centro para Pesquisas Econômicas e de Políticas, prevê que o desemprego vai subir para 8% no fim do ano. "As pessoas estão se iludindo com os números de fevereiro. Estamos vendo só o começo do impacto dos aumentos de impostos: ainda não sentimos o efeito do sequestro."
Com o sequestro, serão US$ 85 bilhões de cortes de gastos até o fim do ano, que podem reduzir em 0,5 ponto percentual o crescimento do PIB. "Não acho que o 'sequestro' vai descarrilar a recuperação, mas deve impedir a economia de ganhar muito impulso", diz Stockton.
De qualquer modo, analistas acreditam que a melhora no emprego ainda não é suficiente para fazer o Fed abandonar sua política de juros próximos de zero e outros instrumentos de estímulo monetário. Quando o Fed começar a tirar as "muletas" da economia, aí sim, saberemos se a recuperação é para valer.
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