Brasil mantém no limbo missão no Paraguai
Com as relações com o Paraguai estremecidas desde o impeachment-relâmpago de Fernando Lugo no ano passado, o Brasil está sem embaixador em Assunção há nove meses, e a situação deve continuar no mínimo até as eleições presidenciais do país, em 21 de abril.
É grande a chance de o vácuo se estender até a posse do próximo presidente, em agosto. Segundo a Folha apurou, o Brasil, que não reconhece o mandato de Federico Franco, não quer apresentar a ele seu novo embaixador.
O Paraguai foi suspenso do Mercosul após Brasil, Argentina e Uruguai considerarem que a destituição de Lugo, após um rápido julgamento político, causou uma "ruptura" democrática no país.
No dia seguinte ao impeachment, em 22 de junho, o governo brasileiro "convocou para consultas" o então embaixador em Assunção, Eduardo dos Santos --movimento que, na diplomacia, tem forte caráter de reprovação ao país envolvido.
Ele não foi enviado de volta ao Paraguai e, desde então, a embaixada está sob o comando de um encarregado de negócios. Em janeiro, Santos foi oficialmente nomeado secretário-geral do Itamaraty, segundo principal posto da chancelaria brasileira.
O nome de seu sucessor ainda está sendo discutido pelo Itamaraty. A decisão final será da presidente Dilma Rousseff.
Apesar de não ter havido o rompimento de relações diplomáticas entre Brasil e Paraguai, o Itamaraty reconhece que houve "desaceleração" no desenvolvimento de temas bilaterais sem um embaixador pleno.
Os interesses brasileiros no Paraguai são muitos. Vão desde a usina binacional de Itaipu à segurança dos cerca de 400 mil brasileiros residentes no país.
A presença de um embaixador poderia, por exemplo, ter tornado menos traumática a resolução do impasse criado pela ameaça de Franco de cessar a venda da energia excedente de Itaipu ao Brasil, em agosto último.
DESCONTENTE
Deixar postos sem embaixador é um gesto político que tem sido usado pelo governo brasileiro para demonstrar descontentamento com governos e organizações.
As credenciais do novo embaixador para a Síria, por exemplo, só deverão ser entregues a um governo sem o ditador Bashar Assad.
O país também segue sem embaixador na OEA (Organização dos Estados Americanos) desde 2011, após o órgão pedir a suspensão da construção da usina de Belo Monte.
No Paraguai, a visão do governo brasileiro é que é preciso mais do que a realização de eleições para comprovar que houve um retorno da democracia ao país.
Editoria de arte/Folhapress | ||
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