Análise: No cenário mundial de hoje, há bombas 'boas' e bombas 'ruins'
Existem bombas "boas" e bombas "ruins", brincou alguém em Washington certa vez quando diplomatas e cientistas de 182 países se reuniram para ver como andava o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).
O TNP nasceu em 1968 para tornar-se o principal instrumento de contenção do que a ONU considera a maior ameaça à humanidade, a vulgarização de armas atômicas.
Com suas assinaturas as potências fundadoras do TNP se comprometeram a reduzir arsenais atômicos de modo gradativo, até a eliminação total. Nada disso se cumpre.
As portas do clube são violadas, com os "bons" dispondo de tolerância. Não importam as leis, importam comportamentos, observou um colunista americano.
As bombas da Coreia do Norte e as pretendidas pelo Irã entram por antecipação na categoria das "ruins". Os aiatolás iranianos são "desestabilizadores".
Já a Índia, Israel e outros detentores ou possíveis detentores de bombas "boas", toleradas, cumprem, é o argumento, rituais de "estabilização".
As bombas da Índia foram inclusive legitimadas por acordo assinado pelo ex-presidente americano George W. Bush.
Não pesou o fato de que o Paquistão, que disputa com a Índia controle da Cachemira, também tem a bomba.
Certa vez o ex-secretário de Defesa dos EUA Robert McNamara chamou a política armamentista americana de "imoral, ilegal, militarmente desnecessária e perigosa".
O arsenal nuclear (4.500 ogivas ofensivas) é mantido como o componente principal do poder americano.
Ilegal, ainda segundo McNamara, é o não respeito à cláusula de redução dos arsenais do TNP.
O imoral se supõe que seja o poder conferido a poucas pessoas, ao presidente dos EUA, por exemplo, para ordenar disparos atômicos. Há também riscos de disparos por acidente.
NEWTON CARLOS é analista de temas internacionais
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