Candidato paraguaio quer usar mais energia de Itaipu
Se vencer as eleições no Paraguai no próximo domingo, o liberal Efraín Alegre, 50, pretende utilizar boa parte da energia de Itaipu que hoje é vendida ao Brasil na industrialização do país.
"Para o Paraguai, muito mais importante que os dólares que possam ingressar com a cessão de energia é a geração de emprego com as indústrias que venham a se instalar no país", disse à Folha o candidato do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), que aparece em segundo lugar na maioria das pesquisas de intenção de voto (mas ultrapassa o colorado Horácio Cartes em algumas).
O tratado de Itaipu prevê que cada lado fique com 50% da energia. Como o Paraguai só consome aproximadamente 9% do total, vende o restante de sua quota ao Brasil por US$ 8,40 cada MW/h (valor bem abaixo do pago em leilões de energia no Brasil entre 2004 e 2011: US$ 61 para cada MW/h, em média).
Para o Brasil, o impacto pode ser grande: Itaipu representa cerca de 17% da energia consumida no país.
Miguel Rojo/AFP | ||
O candidato presidencial paraguaio Efraín Alegre |
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Folha - O presidente Federico Franco, também liberal, disse que o Paraguai deveria parar de 'ceder' energia de Itaipu ao Brasil. O senhor concorda?
Efraín Alegre - Entendo que o presidente Franco sinalizou a necessidade de o Paraguai utilizar sua energia. Não se trata de não a ceder. Se não a utilizarmos, temos que cedê-la ao Brasil.
E é importante para o país que usemos nossa energia para a indústria. O Paraguai precisa gerar emprego.
Muito mais importante que os dólares que possam ingressar com a cessão de energia é a geração de emprego com as indústrias que venham a se instalar no país.
Mas podemos encontrar uma política que beneficie os dois países.
Mas o sr. considera que é preciso renegociar o preço pago pelo Brasil?
Enquanto estivermos cedendo energia, vamos discutir preço. Mas o Paraguai pode usar sua energia como fator de desenvolvimento para toda a região. Há vários setores da indústria brasileira, por exemplo, com problema de competitividade no Brasil, pelos custos, e que são bem competitivas no Paraguai. Que esta indústria esteja no Paraguai, utilize nossa energia. Isso é o que queremos.
Há setores da sociedade paraguaia que defendem que o país não volte ao Mercosul. O sr. considera essa possibilidade?
O Mercosul é importante para o Paraguai, assim como o Paraguai é importante para o Mercosul. Estamos vivendo uma crise nas relações por causa de uma conjuntura que se deu no Paraguai, mas, a partir de 21 de abril, o nosso esforço será restabelecer a normalidade do bloco, pelos caminhos dos tratados.
Esta volta seria um momento para fazer exigências ao bloco?
Claro que vão ser negociadas várias questões, e é uma oportunidade de fazê-lo. O Paraguai poderia fazer como o Uruguai [que assinou um acordo de livre comércio com o México fora do bloco].
Se eleito, seu governo aceitará a Venezuela no Mercosul?
O Partido Liberal era o que havia recomendado aos parlamentares o voto pela incorporação da Venezuela. Então não temos um problema de ordem ideológica. Mas é preciso que isso seja votado pelo Congresso paraguaio.
O que mais preocupa os brasiguaios é a questão jurídica sobre as terras em que produzem. Como seu governo trataria a questão?
Franco deu segurança aos produtores e, entre eles, os brasiguaios. O campo foi pacificado, e vamos consolidar isso. A lei de zona fronteiriça [que proíbe a estrangeiros ter propriedades próximo à fronteira] oferece segurança a todos os que compraram a terra antes da vigência da lei.
Quais seus planos para a reforma agrária?
Vamos trabalhar em uma linha parecida com a do Brasil: vamos gerar um ministério de desenvolvimento rural, para trabalhar com o pequeno produtor, que é o grande deficit que temos hoje.
Se vencer, o sr. considera uma aliança com os colorados?
Desde a queda de Stroessner, nenhum partido tem o controle majoritário do Congresso. Serão necessários acordos com distintos setores, inclusive o Colorado.
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