Inscrição de ex-presidente muda cena eleitoral no Irã
Traumatizada por anos de conflito aberto com o indócil e provocador Mahmoud Ahmadinejad, a cúpula do regime iraniano esperava eleger com facilidade um novo presidente mais leal ao líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.
Mas os planos para o pleito presidencial de 14 de junho se complicaram com a entrada repentina do ex-presidente centrista Ali Akbar Hashemi Rafsanjani na corrida para suceder Ahmadinejad, fora da disputa por já ter cumprido dois mandatos seguidos.
Após manter o suspense durante meses, Rafsanjani apresentou-se às autoridades eleitorais no último sábado faltando cinco minutos para o fim do prazo legal.
Sua candidatura ainda precisa ser avaliada pelo Conselho de Guardiães da revolução, que aprova ou rejeita presidenciáveis em função de suas credenciais ideológicas.
Mas, devido à sua influência, é dado como certo que ele estará na lista dos finalistas, escolhidos entre quase 700 candidatos.
Misto de alto clérigo xiita e empresário bilionário, Rafsanjani presidiu o país por dois mandatos (1989-1997), retroativamente bem avaliados.
Tido como pragmático, modernizou a economia após a guerra contra o Iraque e melhorou a relação de Teerã com o resto do mundo, abalada na primeira década após a revolução islâmica de 1979.
Desde sua saída do governo, Rafsanjani cultivava a imagem de patriarca sábio e alheio a disputas entre conservadores e reformistas.
Mas ele atraiu a hostilidade do atual líder supremo por ter apoiado os protestos contra a reeleição supostamente fraudulenta de Ahmadinejad em 2009. As manifestações foram esmagadas pelo regime, e os líderes reformistas derrotados na eleição acabaram em prisão domiciliar, onde estão até hoje.
Sem candidato de peso neste ano, os reformistas incentivam sua ampla base, formada essencialmente pela classe média e populações urbanas, a votar em massa por Rafsanjani.
O ex-presidente também é capaz de atrair o voto dos conservadores insatisfeitos com a adversidade econômica, atribuída às sanções internacionais pelo programa nuclear e às políticas populistas de Ahmadinejad.
NERVOSISMO
Rafsanjani havia deixado claro que não concorreria sem aval do líder supremo, de quem se reaproximou em 2012. Não está claro se a permissão foi concedida, mas a participação do ex-presidente gerou nervosismo entre candidatos leais a Khamenei.
"Estamos determinados a impedir que pessoas em conflito com o líder supremo tenham cargos", disse o assessor e ex-chanceler Ali Akbar Velayati. Até então, Velayati e o também conservador prefeito de Teerã, Mohamad Qalibaf, eram dados como favoritos à Presidência.
Dezenas de deputados fizeram um abaixo-assinado denunciando antigas declarações conciliadoras de Rafsanjani em relação a Israel. A mídia linha dura o acusa de ser um agente a serviço dos Estados Unidos.
Analistas especulam que o atual cenário pode pressionar o Conselho de Guardiães a aprovar a candidatura do inimigo interno número um do líder supremo, o ex-chefe de gabinete do presidente Esfandiar Rahim Mashaee, como forma de enfraquecer o voto pró-Rafsanjani.
Acusado de ser um nacionalista mais próximo da identidade persa do que da ideologia revolucionária islâmica, Mashaee é detestado por Khamenei, mas suas posições liberais podem lhe render alta votação.
Sua entrada na disputa poderia obrigar o regime a adotar um discurso moderado para atrair o máximo de eleitores.
A quatro semanas do pleito, o cenário continua indefinido e sujeito a alianças e reviravoltas de última hora.
Editoria de Arte/Folhapress |
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