Para ex-secretário de Bush, republicanos precisam de mudança
A sobrevivência do partido republicano americano depende da aprovação da reforma da imigração, que passou no Senado e agora segue para a Câmara, controlada pelos republicanos. Esse é o alerta de Carlos Gutierrez, ex-secretario de comércio do governo George W. Bush, que hoje é presidente do grupo "Republicans for Immigration Reform" e vice-presidente do Albright Stonebridge Group, da ex-secretária de Estado Madeleine Albright.
"Se o partido republicano não apoiar a reforma da imigração e, consequentemente, não atrair o voto hispânico, vai ficar cada vez menor e vai ser muito difícil conseguir a maioria dos votos; talvez possamos conseguir eleição em 2016, por causa da fadiga de Obama, mas em 2020, 2024, estaremos condenados a virar um partido regional", disse.
Abaixo, trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
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Muitos deputados republicanos que irão enfrentar primárias no ano que vem afirmam que votar a favor da reforma da imigração é bom para a eleição presidencial, mas ruim para a eleição deles, porque vão ser atacados por candidatos da extrema direita.
Isso tem acontecido muito, e nós tentamos ser uma espécie de defesa para os candidatos republicanos pró-imigração que serão atacados durante primárias por candidatos de extrema direita.
Quem no partido republicano apoia a reforma?
Principalmente empresários, eles entendem que o que realmente faz o partido ser poderoso é sua ideologia econômica livre mercado, baixos impostos e redução do Estado - e não questões sociais. Nós republicanos gastamos tanto tempo falando sobre tudo o que somos contra - aborto, imigração, gays - ora, isso representa 50% da população; nós somos a favor do que?"
Na última eleição, Mitt Romney teve 27% do voto hispânico, McCain teve 33% em 2008 e Bush, 44% em 2004. O partido ficou rotulado como anti-imigrantes. Perdemos não só o voto hispânico, mas também o asiático. Foi como o senador Marco Rubio disse - os hispânicos podem até apoiar nossas propostas para a economia e os impostos, mas se eles acharem que nós queremos deportar a avó deles, não vão votar na gente.
Quem se opõe à reforma, além da extrema direita e quem tem medo de ser atacado durante as primárias?
Também há alguns republicanos que acrcreditam, como o comediante Jay Leno brincou, que os imigrantes ilegais também podem ser chamados de democratas sem documentos. Ou seja, por que dar a chance para eles votarem?
A aprovação da reforma da imigração é essencial para a sobrevivência do partido republicano?
Se o partido republicano não apoiar a reforma da imigração e, consequentemente, não atrair o voto hispânico, vai ficar cada vez menor e vai ser muito difícil conseguir a maioria dos votos; talvez possamos conseguir eleição em 2016, por causa da fadiga de Obama, mas em 2020, 2024, estamos condenados a virar um partido regional.
O que você acha que vai acontecer na Câmara?
A Câmara pode acabar aprovando uma lei que é tão extrema para a direita que não poderá ser "reconciliada" com a lei do Senado. Se for muito dura em relação a segurança da fronteira, mas não fizer concessões para a legalização dos 11 milhões de ilegais, por exemplo. O texto do senado chegou a um meio termo, não vão deportar os 11 milhões, mas tampouco vão dar cidadania no curto prazo, vão apenas legalizar. Se quiserem se tornar cidadãos, leva 14, 15 anos.
Você foi assessor do candidato Mitt Romney para o eleitorado hispânico. Qual foi o efeito da declaração do candidato de que os ilegais deveriam se "auto-deportar"?
O efeito foi que Obama está hoje na Casa Branca.
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