Pai de clérigo pediu a Obama que o filho não fosse morto
Nasser al-Awlaki escreveu, há três anos, uma carta ao presidente dos EUA, Barack Obama, pedindo que o governo americano não matasse seu filho, Anwar al-Awlaki. Ele fez o mesmo pedido a uma Corte, com uma ação legal.
Anwar, então um influente clérigo muçulmano, era procurado por seus sermões, vistos como de fundo extremista. "Obama nunca respondeu", diz Nasser à Folha, em sua casa em Sanaa.
Em setembro de 2011, dois drones dispararam mísseis Hellfire contra o clérigo, na província iemenita de Al-Jawf. "Dei meu melhor, mas os EUA já tinham decidido matar meu filho. Não havia nada que eu pudesse fazer."
Nascido no Novo México, Anwar tinha cidadania americana. Sua morte tornou-se símbolo do debate sobre limites legais aos drones. Entidades de direitos civis levaram o caso à Justiça --que, diz Nasser, se recusou a julgar seu filho antes de ele morrer. Audiência deve ser em julho.
Amparado pelo Centro para Liberdades Constitucionais e pela União Americana de Liberdades Civis, Nasser diz que a morte de seu filho contraria a Constituição dos EUA. "Seus sermões eram críticos em relação às ações americanas no mundo, mas isso é garantido nesse país por liberdade de expressão."
Há evidências, segundo os EUA, de que Anwar pregava ações terroristas contra o país e fazia parte da Al Qaeda.
O clérigo foi vinculado a sequestradores dos aviões do 11 de Setembro. Ele teria inspirado, com sermões, Nidal Malik Hassan, que matou a tiros 13 pessoas no Texas em 2009.
Outra acusação é a de que ele teria recrutado Umar Farouk Abdulmutallab, um jovem nigeriano que tentou explodir um avião a caminho de Detroit nesse mesmo ano.
FÃ DE RAPPER
Nasser conta que seu filho, educado em escolas públicas, "era normal". "Ele me falava sobre o [rapper americano] Snoop Dogg, nomes de que nunca tinha ouvido falar."
Mas, após receber uma bolsa para cursar engenharia hidráulica no Colorado, em 1990, Anwar entrou em contato com líderes islâmicos "e se educou na religião".
O pai diz que a carreira do filho foi beneficiada pela fluência no inglês e pela assimilação à cultura americana, que o levaram a receber convites para dar sermões às sextas-feiras nas mesquitas.
Anwar falava também pela internet. Rapidamente, tornou-se influente ao redor de todo o mundo islâmico.
Nasser afirma, porém, que o filho se radicalizou nos últimos anos de vida. "Nos EUA ele começou a se preocupar com o que ocorre no mundo árabe, especialmente depois da Guerra do Iraque [2003]."
"Suas visões radicais são o fruto das políticas norte-americanas. Ele mudou muito depois do 11 de Setembro."
A partir de 2010, com Anwar de volta ao Iêmen, Nasser diz que a família viveu meses de angústia, à espera de que ele fosse morto. Anwar trocava de esconderijos pelo país. "Tentaram muitas vezes. Em 2011, conseguiram."
Duas semanas depois, para novo choque da família, foi anunciada a morte de Abdulrahman al-Awlaki, filho de Anwar, aos 16 anos. Nascido em Denver, no Colorado, também era cidadão americano.
Os EUA dizem que o rapaz foi morto por drone devido a informação incorreta da Inteligência. "Meu filho e meu neto já estão mortos", diz Nasser. "Quero divulgar o impacto das políticas americanas no Iêmen e interromper os ataques dos drones."
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