Mursi é proibido de sair do Egito após acusação de 'insulto ao Judiciário'
O presidente deposto do Egito Mohamed Mursi foi proibido nesta quinta-feira de sair do país após ser acusado pela Justiça de "insulto ao Poder Judiciário". Além dele, outros oito dirigentes da Irmandade Muçulmana foram processados pelo mesmo delito.
A decisão é tomada horas após a Promotoria emitir mandados de prisão contra cerca de 300 membros da mesma entidade, dentre eles o líder espiritual, Mohamed Badie. Eles são acusados de incitar a violência durante o protesto de opositores que terminou com a destruição da sede do grupo religioso no Cairo.
Segundo a agência de notícias Mena, o juiz designado pelo Ministério da Justiça para avaliar o processo ouvirá na próxima segunda-feira o depoimento do mandatário. Além de Mursi, são investigados o presidente do Partido Liberdade e Justiça, Saad al-Kathani, três parlamentares e três dirigentes da agremiação.
A Justiça fez a acusação baseada em um discurso de Mursi em 26 de junho, em que acusa os magistrados de serem o resquício do regime de Hosni Mubarak com a intenção de destruir a democracia no Egito. Além do pronunciamento, o mandatário acusou vários juízes de participarem de fraudes eleitorais durante a ditadura.
Mais cedo, a Irmandade Muçulmana afirmou que Mursi foi preso pelos militares e estava no quartel da Guarda Republicana, no Cairo. Segundo o porta-voz da entidade, Gamal el-Haddad, outros integrantes do gabinete deposto também foram conduzidos, além do líder do braço político da Irmandade, Saad al-Katatni.
GOLPE
Mursi foi deposto por um antecipado golpe militar, após milhões de manifestantes terem tomado as ruas durante a semana pedindo por eleições antecipadas. Ligado à Irmandade Muçulmana, o ex-presidente islamita completara um ano de governo no domingo.
Ele assumiu a liderança do Egito após protestos em massa destronarem o ex-ditador Hosni Mubarak, no início de 2011. Nos meses seguintes, lidou com um país em crise política e econômica e irritou a população com sua agenda conservadora.
O ex-mandatário deixou o cargo após os militares tomarem as ruas e estabelecerem um governo interino, conduzido pelo presidente da Suprema Corte Institucional, Adly Mahmud Mansour, que jurou o cargo nesta quinta-feira.
Em discurso, Mansour elogiou as manifestações e disse que a população egípcia lhe deu o poder para "consertar e corrigir a revolução". "O mais glorioso do último 30 de junho [dia mais intenso dos protestos] é que uniu a todos sem discriminação ou divisão".
Ele convidou a Irmandade Muçulmana ao diálogo, mesmo após Mursi ser deposto. "A Irmandade Muçulmana é parte desse povo e é convidada a participar a construir essa nação em que ninguém deve ser excluído. Se eles respondem positivamente ao convite, serão bem-vindos".
Na praça Tahrir, as multidões foram esvaziadas após as celebrações da madrugada, e durante a manhã de hoje apenas grupos esparsos se manifestam.
Mas foram o suficiente para a histeria coletiva diante dos aviões militares que pintaram o céu com as cores da bandeira do Egito, durante o juramento do presidente interino Mansur.
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