Irmandade Muçulmana rejeita plano de transição política no Egito
A Irmandade Muçulmana manifestou nesta terça-feira sua contrariedade ao plano de transição governamental proposto pelo presidente interino do Egito, Adly Mansur. Assim como em outras ocasiões, o movimento rejeita qualquer iniciativa da atual administração, empossada após o presidente Mohamed Mursi ser deposto.
A proposta foi feita por Mansur na segunda (8), após confrontos entre militantes islâmicos e militares na porta da Guarda Revolucionária no Cairo, em uma ação que terminou com 51 mortos e mais de 300 feridos. Nesta terça, o grupo marcou um novo protesto, após o enterro das vítimas da violência de ontem.
Mahmud Hams/AFP | ||
Aliados de Mursi levam cópias do Alcorão para nova manifestação em apoio ao presidente deposto no Cairo, nesta terça |
O plano estipula que, até final do ano, seja convocado um referendo para aprovar uma nova Constituição, que será desenvolvida pela administração interina, e a realização de eleições legislativas para as duas casas até o fim do ano. Após a posse dos parlamentares, será convocada uma eleição presidencial.
Em comunicado, um dos líderes políticos da Irmandade, Essam el-Erian, disse que o presidente interino está "usurpando o poder do Legislativo" e que o decreto é um ato de "alguns apontados pelos golpistas". Ele ainda pediu aos seguidores do partido islâmico que não deixem os protestos que pedem a volta de Mursi.
Assim como o presidente islâmico foi deposto, o chamado Conselho da Shura, a Câmara Alta do Parlamento foi dissolvida após o golpe de Estado feito pelos militares, na última quarta (3). O Legislativo também era dominado por aliados da Irmandade Muçulmana.
LUTO
Nesta terça, os aliados do movimento realizam os velórios dos 42 militantes que foram mortos durante os protestos contra a queda de Mursi, na segunda-feira. Os atos foram convocados em diversas cidades do país e serão seguidos por mais uma manifestação contra os militares e o governo interino.
A expectativa é de mais um dia tenso nas cidades egípcias. Na segunda, o movimento acusou militares e policiais de abrir fogo sem razão contra os manifestantes. O braço político da Irmandade Muçulmana, o Partido Liberdade e Justiça, incentivou seus seguidores a continuar o enfrentamento às forças de segurança.
Eles chegaram a advertir sobre a aparição de uma nova Síria, em referência à guerra civil no país do Oriente Médio. Já o Exército pediu o fim dos protestos e disse que não toleraria nenhuma ameaça à segurança nacional. Eles ainda chamaram de terroristas armados o grupo que promoveu os confrontos de segunda.
Mais cedo, a alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay, pediu uma investigação imparcial sobre a morte das 51 pessoas durante os protestos. Ela elogiou a decisão do governo interino de fazer uma investigação, mas pediu que um grupo independente faça as investigações.
Já o chanceler russo, Sergei Lavrov, pediu a estabilização do país e uma transição pacífica de poder, a fim de evitar que se crie um cenário de guerra civil como o da Síria. "Nós apoiamos qualquer esforço para dar fim às manifestações de violência e confronto, que tenham a intenção de estabilizar a situação".
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