Ditador da Síria ganhou força, afirma relator da ONU
A Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU sobre a Síria identifica uma situação "totalmente nova e inesperada" no país com a retomada, pelo regime, de locais estratégicos que estavam em poder ou ameaçados pelos rebeldes.
"Está aparecendo uma nova relação de força. O governo conseguiu retomar o controle de vários lugares onde ele foi ameaçado", afirmou o presidente da Comissão, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, à Folha.
O diagnóstico, que será apresentado por ele na próxima segunda-feira à Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, já é bem distinto do que ele apontou em reunião no Conselho de Segurança, no fim de junho.
Para Pinheiro, "várias oportunidades foram perdidas" de uma saída política e diplomática para a guerra enquanto o regime de Bashar Assad estava em posição mais acuada. Agora, segundo investigação da comissão, a capital está "bastante protegida", e há avanços do governo em Homs e em Aleppo.
"Aparentemente, o governo abandonou os combates em áreas em que não vê maior significado e optou por conquistar locais de fornecimento das suas tropas e estradas de comunicação", diz.
"O governo [agora] tem a sensação de que está prevalecendo", afirma Pinheiro, destacando que a reconquista de terreno também dá mais confiança para o Exército sírio.
Para ele, é evidente o esgotamento físico das tropas após mais de dois anos de combates, mas a permanência de cerca de 100 mil homens em combate demonstra a "lealdade" da tropa que permanece.
Outra mudança observada, segundo Pinheiro, foi uma intensificação dos sequestros pelo governo. "Aumentaram os casos de pessoas que são presas e depois não se sabe mais sobre o paradeiro delas."
Ontem, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que mais de 100 mil pessoas morreram no país desde o início dos confrontos, em março de 2011.
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