Oposição defende operação diplomática que trouxe boliviano ao Brasil
Senadores da oposição e os chamados "independentes" defenderam nesta segunda-feira (26) a operação diplomática que permitiu a chegada ao Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina.
O grupo vai pedir à Comissão de Relações Exteriores que atue para impedir que diplomata brasileiro Eduardo Saboia, que viabilizou a saída de Pinto Molina da Bolívia, sofra eventuais punições impostas pelo Itamaraty.
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Vice-presidente da comissão, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) disse que o Senado vai agir para impedir que o Itamaraty conduza uma "perseguição" a um diplomata que agiu corretamente.
"O diplomata brasileiro não aceitou essa farsa. É o chanceler brasileiro, que ama o PT e a presidente Dilma, o mesmo que defende médicos cubanos. E o Itamaraty querer punir o diplomata porque tirou uma pessoa que há mais de 400 dias esperava um salvo conduto. A presidente da República deveria saber disso, ela que foi perseguida, presa e torturada."
Os oposicionistas afirmaram que Saboia conduziu uma "ação humanitária" que permitiu resgatar a integridade física de Molina. Com duras críticas ao chanceler Antônio Patriota (Relações Exteriores), o grupo afirma que o Itamaraty é quem deve explicações por condenar publicamente a operação conduzida pelo diplomata brasileiro.
"Quem deve prestar esclarecimentos é o ministro Patriota. Essa situação comprova que a diplomacia brasileira é de governo, e não de Estado. O diplomata tomou uma posição correta ao resgatar a dignidade de uma pessoa humana", disse o senador Pedro Taques (PDT-MT).
Líder do PSDB, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) afirmou que a Constituição brasileira tem como um de seus artigos a defesa da dignidade humana, por isso Saboia agiu dentro do que estabelece a legislação.
"Estranho que esse diplomata, que agiu segundo o princípio basilar da preservação da dignidade humana, possa estar sujeito a pressões e ameaças de represálias do Itamaraty. A Comissão de Relações Exteriores vai manifestar sua vigilância para que esse diplomata não venha a sofrer prejuízo na sua vida funcional", afirmou o tucano.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que em maio encaminhou ofício à OEA (Organização dos Estados Americanos) para denunciar a situação em que vivia Molina, disse que o Senado vai ficar alerta para impedir punições a Saboia. "A Comissão de Relações Exteriores acompanhará de perto iniciativas do governo que possam envolver o diplomata. Não há razão para punição, o diplomata agiu para salvar uma vida."
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Para os governistas, o Itamaraty está certo ao pedir explicações ao diplomata --que teria agido à revelia do comando do ministério para trazer o senador boliviano ao Brasil.
"Se isso foi feito de acordo com uma decisão do Estado brasileiro, nós vamos ter um problema a administrar diplomaticamente com a Bolívia. Se constatarmos que foi um gesto pessoal, vamos ter um problema sério de funcionamento das instituições", disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).
"Tenho certeza absoluta de que, se fosse alguém de esquerda, ele [diplomata] imediatamente seria taxado pela imprensa de ditador. O fato iria ser condenado, mas, como se trata de alguém que faz a oposição a um governo que é muito diferente dos governos anteriores da Bolívia, certamente, não haverá, pelo menos em território brasileiro, a condenação pública a esse fato", completou a senadora Vanessa Graziottin (PCdoB-AM).
FERRAÇO
Os senadores defenderam a atuação do presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), um dos articuladores da operação de resgate de Pinto Molina. O peemedebista transportou o senador boliviano de Corumbá (MS) até Brasília, onde está hospedado, em um avião de um empresário do Espírito Santo que é seu amigo.
"Quero me solidarizar com o senador Ricardo Ferraço, que teve iniciativa louvável", disse Jarbas.
"O presidente da Comissão de Relações Exteriores tomou decisão correta dando cobertura política e institucional atuando no território brasileiro. Fico surpresa que as autoridades bolivianas estão reclamando de reciprocidade de cortesia internacional", completou a senadora Ana Amelia Lemos (PP-RS) ao relembrar episódio em que o avião do ministro Celso Amorim (Defesa) foi revistado em território boliviano.
A versão do Planalto e do Itamaraty é de que o governo não autorizou e nem sequer sabia da operação para retirar Molina do país vizinho. O senador não podia sair do prédio por falta de um salvo conduto do governo boliviano. Ele ficou 400 dias na Embaixada do Brasil em La Paz, capital boliviana, antes da operação de resgate para sua saída do país.
Em junho deste ano, o Itamaraty, a Advocacia-Geral da União e a Procuradoria Geral da República se posicionaram contra ajuda ao senador boliviano, que queria deixar a Bolívia rumo ao Brasil de carro.
Molina chegou ao Brasil na madrugada deste domingo, depois de uma viagem de carro que durou 22 horas de La Paz até Corumbá (MS). O senador boliviano viajou de carro da Embaixada do Brasil na Bolívia, acompanhado de Saboia e de dois fuzileiros navais brasileiros que fizeram sua segurança.
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