Suspeito de ataque queria ir à Tailândia e se envolveu em outros crimes
Aaron Alexis, o homem morto por policiais e identificado como o atirador responsável pelo mortífero ataque na Washington Navy Yard segunda-feira, servia o país como reservista na marinha, tinha interesse profundo pelo budismo e pela cultura tailandesa e havia enfrentado problemas com a lei, de acordo com entrevistas e com o seu histórico.
Em 2004, de acordo com um relatório da polícia de Seattle, Alexis saiu da casa de sua avó certa amanhã, sacou uma pistola calibre.45 que levava nas calças e disparou três tiros contra o carro de um operário de construção, dois dos quais contra os pneus traseiros e o terceiro para cima.
Um mestre de obras disse à polícia acreditar que Alexis estivesse frustrado com os problemas de estacionamento causados pela obra. Mas Alexis disse aos policiais que havia sofrido um colapso causado pela raiva e que não se lembrava nem mesmo de ter disparado a arma, uma hora depois do episódio.
Ele afirmou que estava em Nova York durante os ataques do 11 de setembro e descreveu a um detetive "como os acontecimento lá o haviam perturbado", de acordo com o relatório do detetive.
O pai dele contou aos investigadores que Alexis tinha problemas associados a um síndrome de estresse pós-traumático, e que havia sido "participante ativo" dos esforços de resgate depois do 11 de setembro. O pai de Alexis não foi localizado para comentar na segunda-feira.
Anthony Little, cunhado de Alexis, disse a repórteres na segunda-feira em Nova York que fazia cinco anos que sua mulher, Naomi Alexis, não falava com o irmão. "Ninguém previu o que aconteceria, ninguém sabia coisa alguma, e isso tudo é muito chocante", afirmou.
As autoridades afirmam que os motivos para o ataque contra o estaleiro da marinha em Washington continuam incertos.
Alexis nasceu em Nova York em 1979 e era representativo da diversidade cultural da região de Queens. Ele era negro, mas cresceu em uma parte de Queens que abriga pessoas de etnia asiática, hispânicos e judeus ortodoxos; e desenvolveu grande interesse por tudo que se relaciona à Tailândia quando vivia em Fort Worth, Texas.
Ele trabalhou como garçom em um restaurante tailandês, estudou o idioma do país e regularmente meditava e participava dos cânticos em templos budistas. De 2007 a 2011, Alexis foi reservista da marinha em período integral, servindo como técnico eletricista de aviões e obtendo a patente de suboficial de terceira classe.
Por boa parte do período, de fevereiro de 2008 a janeiro de 2011, quando deixou o serviço, ele trabalhou no esquadrão de apoio logístico da frota em Fort Worth. Sua especialidade era reparar os sistemas elétricos de aviões.
O secretário da Marinha, Ray Mabus, declarou à rede de notícias CNN que Alexis era parte da "reserva de prontidão", o que significa que não tinha contato cotidiano com a marinha mas que, em situação de mobilização, "ele seria um dos convocados".
Alexis recebeu a medalha de serviço nacional de defesa e a da guerra mundial contra o terrorismo, duas condecorações padronizadas para aqueles que servem as forças armadas, mas há indicações de que enfrentou dificuldades na marinha.
Durante seu período de serviço militar, ele exibiu um "padrão de delitos de comportamento", disseram oficiais da marinha, mas não quiseram acrescentar detalhes.
Recentemente, Alexis vinha trabalhando para uma companhia afiliada à Hewlett-Packard que fazia manutenção do sistema de Internet da marinha, informou a Hewlett-Packard em comunicado.
Ele estava há semanas hospedado em um hotel para estadias longas, em companhia de colegas de trabalho, para um projeto em Washington, de acordo com um funcionário do governo.
Alexis foi detido em Fort Worth em 2010 por disparar uma arma de fogo. Na época, ele morava em um condomínio chamado Orion, em Oak Hill. A vizinha de cima chamou a polícia depois de ouvir um estalido e perceber um jato de poeira e buracos em seu assoalho e teto.
Ela informou à polícia que Alexis a havia interpelado no estacionamento do condomínio por fazer barulho demais, e que se sentia ameaçada por ele, de acordo com o relatório da polícia de Fort Worth.
Alexis declarou a um policial mais tarde que estava limpando a arma ao cozinhar, e que ela havia disparado acidentalmente. O policial perguntou por que ele não havia chamado a polícia ou verificado se estava tudo bem com a vizinha de cima, e ele respondeu que não achava que a bala tivesse atravessado o teto porque não via luz passando pelo buraco. O policial registrou que a arma estava desmontada e banhada em óleo.
James Rotter, o pai da vizinha, disse que o tiro havia atravessado o piso perto de onde sua filha estava sentada. Ela se mudou depois do episódio, e um advogado aconselhou a família a não prestar queixas.
"Como seria possível provar que ele agiu de propósito, se alegava estar limpando a arma?", disse Rotter.
Nos últimos anos, Alexis estava namorando uma tailandesa e começou a frequentar regularmente o templo budista Wat Busayadhammavanara, em White Settlement, um subúrbio de Fort Worth.
Ele tinha amigos tailandeses, adorava a comida daquele país e dizia que a cultura da Tailândia sempre o atraiu, contou Pat Pundisto, o membro do templo que estava atendendo telefonemas lá na segunda-feira.
Participava regularmente dos cultos dominicais, entoando cânticos budistas e ficando para meditar mais tarde. Em comemorações como o Ano Novo tailandês, em abril, ele ajudava, servindo convidados em um traje cerimonial tailandês fornecido pelo templo.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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