Candidato brasileiro recebe carta ameaçadora de nazistas
Candidato a deputado pelo Partido Pirata alemão, o brasileiro Fabricio do Canto, 42, foi surpreendido no último sábado por uma carta da sigla neonazista NDP.
O envelope continha uma carta com ataques a imigrantes e uma réplica de passagem aérea para seu país de origem, com as inscrições "sem volta" e "boa viagem".
A mesma mensagem já havia sido enviada durante a campanha a outros estrangeiros que também têm cidadania alemã e disputarão as eleições de amanhã.
"É chocante. Conheço pessoas que já apanharam na rua em Berlim por defender os direitos de refugiados", contou o brasileiro à Folha.
"A carta dizia que os estrangeiros custam muito caro à Alemanha. Mas parte da riqueza do país se deve à exportação de mercadorias, inclusive para o Brasil."
Candidato pelo distrito de Pankow, na antiga Berlim oriental, Canto interpretou a carta como uma ameaça e registrou ocorrência na polícia. Ele diz que o principal objetivo dos neonazistas é criar um factoide para aparecerem na mídia.
"É uma jogada para chamar a atenção da imprensa e dos eleitores de extrema-direita, que infelizmente ainda existem na Alemanha."
Casado com uma indiana com cidadania americana, o brasileiro é formado em administração e atua como voluntário em um centro de ajuda a imigrantes. Os filhos do casal têm quatro passaportes.
Gaúcho de Alegrete e fã de chimarrão, ele mantém uma loja especializada em bombas e cuias para o consumo da erva. Reconhece ter pouca chance de se eleger, mas se candidatou para defender causas como o multiculturalismo e o ativismo digital.
O NPD nunca conseguiu superar a cláusula de barreira que impede partidos com menos de 5% dos votos de chegar ao Parlamento alemão. No entanto, tem representantes eleitos em assembleias de dois Estados.
A oposição social-democrata defende o banimento da sigla, acusada de pregar o ódio racial, mas a ideia não tem ido adiante por falta de apoio do governo da conservadora Angela Merkel.
Uma tentativa iniciada pelo antecessor de Merkel, Gerhard Schröder (1998-2005), de centro-esquerda, foi arquivada pela Corte Constitucional alemã há dez anos.
O NPD é conhecido por protestar contra estrangeiros, e seus integrantes já boicotaram atos em memória das vítimas do Holocausto. (BMF)
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