Irlanda devolve duas crianças loiras aos pais ciganos depois de provas de DNA
O Ministro da Justiça da Irlanda informou que as duas crianças temporariamente tomadas pela polícia de seus pais ciganos foram devolvidas as suas famílias depois que exames de DNA provaram que as crianças eram legítimas.
Alan Shatter, disse nesta quarta-feira que ordenou o comandante da polícia a produzir um relatório sobre por que os oficiais sentiram a necessidade de levar as crianças - um menino de 2 anos e uma menina de 7 anos de idade - de suas famílias.
Em ambos os casos, a polícia suspeitou que as crianças pudessem ser vítimas de sequestros por terem cabelos loiros e olhos azuis, ao contrário dos pais.
Falando à imprensa, uma das irmãs da menina, de 21 anos, mas que não pode ser identificada por razões legais, disse que sua mãe não conseguiu comer ou dormir durante as duas noites que passou sem a filha, que estava sob a tutela Serviço de Saúde irlandês.
"A coisa mais importante é que ela voltou para casa", disse a irmã.
DISCRIMINAÇÃO
A ministra da Infância e da Juventude irlandesa, Frances FitzGerald, afirmou nesta quarta-feira que, quando a polícia ou os órgãos sociais tomam a decisão de pôr a crianças sob a tutela do Estado, o fazem sempre querendo o "seu bem-estar e proteção" e em concordância com a legislação vigente.
Nos dois casos, as visitas dos agentes da Polícia irlandesa (Garda) foram realizadas após denúncias feitas por vizinhos, o que, para alguns, demonstra um excesso de zelo.
Essa é a opinião do diretor-executivo do Centro Europeu de Direitos Roma (subgrupo de ciganos Romani), Dezideriu Gergely, que disse que está preocupado com a repercussão dos casos na Grécia e na Irlanda, o que levou, em sua opinião, a generalizações e associações perigosas.
Em entrevista à rede de televisão "IRTE", Gergely assegurou nesta quarta-feira que as notícias jornalísticas devem se ater aos "fatos" e não em "presunções" sobre a comunidade cigana. Ressaltou ainda que a ênfase recai frequentemente sobre supostas criminalidades.
O diretor lembrou ainda que não se pode esquecer que alguns membros desta etnia têm a pele clara e o cabelo loiro.
"A preocupação é que, de uma maneira ou de outra, não são abordados todos os ângulos possíveis. Logo, podem cair na armadilha de culpar toda a comunidade por algo", destacou Gergely.
Por sua vez, o Conselho de Imigrantes da Irlanda pediu hoje ao governo detalhes de quais são as medidas adotadas para que as autoridades não caiam no erro da discriminação racial.
Para sua diretora-executiva, Denise Charlton, os dois casos ocorridos na Irlanda sugerem que a Garda talvez dê atenção excessiva a certos grupos minoritários.
"A Irlanda já foi advertida em um relatório do Conselho da Europa sobre a necessidade de prevenir a discriminação racial e os eventos da semana passada não tranquilizaram os imigrantes", disse Charlton.
A ativista lamentou que estes dois casos tenham acontecido "uma semana depois" do Executivo informar que os "estrangeiros" eram responsáveis por mais de 50% das fraudes cometidas contra a seguridade social.
"Na minha posição, eu encorajo as pessoas a denunciar se estão preocupadas com a situação de algum menor", declarou Frances FitzGerald.
A ministra fez referência ao grande número de menores que chegou à Irlanda sem a companhia de adultos nos últimos dez anos, classificado como "alarmante".
"Isso é reflexo de um problema global. O tráfico de mulheres e crianças é uma questão muito séria e a Irlanda não é imune a isso. Obviamente, se deve fazer todo o possível para investigar todas as circunstâncias quando surgem casos assim", finalizou.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis