EUA espionavam Merkel desde 2002, diz revista alemã
A revista alemã "Der Spiegel" revelou em sua mais recente edição que o grampo americano ao telefone celular da chanceler Angela Merkel pode ter começado há mais de dez anos, em 2002 --quando ainda não alcançara o principal cargo do país.
Não fica claro, porém, se a espionagem das comunicações da chanceler alemã incluía a gravação de conversas ou se estava limitada a obter os dados de conexão.
Na semana passada, o presidente americano, Barack Obama, pediu desculpas pelo episódio e afirmou que Washington "não espiona nem espionará" as comunicações de Merkel --mas não usou o verbo no tempo passado.
Segundo o tabloide alemão "Bild", Obama teria sido informado em 2010 da operação de espionagem ao telefone celular da chanceler.
Em reunião com o diretor da Agência Nacional de Segurança (NSA) naquele ano, o presidente teria autorizado que a operação de vigilância sobre Merkel continuasse.
Representantes da NSA, no entanto, desmentiram essa informação. Em nota, um porta-voz da agência afirmou que o diretor da NSA, general Keith Alexander, "não falou com o presidente Obama em 2010 sobre uma suposta operação de inteligência que envolveria a chanceler Merkel e nunca falou de qualquer operação que a envolvesse".
Algumas publicações alemãs noticiaram que Obama, em telefonema a Merkel, disse que teria suspendido o monitoramento de suas comunicações caso tivesse conhecimento
dessa operação.
Segundo a "Der Spiegel", a NSA mantinha escritórios ilegais em cerca de 80 localidades, inclusive nas cidades de Paris, Madri, Roma, Praga, Genebra e Frankfurt.
A indignação alemã com o episódio levou à primeira convocação do embaixador dos EUA no país para prestar esclarecimentos ao governo desde a Segunda Guerra.
O país também se uniu aos esforços do Brasil para propor à ONU uma resolução que garanta a privacidade nas comunicações on-line de pessoas, empresas e Estados..
A Alemanha enviará altos funcionários do serviço de inteligência aos Estados Unidos na próxima semana para exigir respostas sobre as acusações de que os serviços secretos americanos monitoravam o celular de Merkel, um caso que ameaça afetar as relações transatlânticas.
Na quarta-feira passada, Merkel questionou Obama por telefone sobre o caso e afirmou que espionar aliados seria um "abuso de confiança" entre sócios internacionais.
Após as acusações, o governo alemão convocou o embaixador americano, uma iniciativa sem precedentes entre os dois aliados.
O jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung informou que Obama declarou a Merkel durante a conversa telefônica que ele não estava a par de uma operação de espionagem contra a chanceler. A publicação dominical não citou fontes.
A Der Spiegel destaca que o presidente americano disse que se soubesse da operação teriam ordenado o fim imediato.
Outros meios de comunicação germânicos indicaram que a assessora de Segurança Nacional de Obama, Susan Rice, também disse a autoridades alemãs que o presidente não sabia nada sobre a espionagem.
O gabinete de Merkel se negou a comentar sobre o que Obama disse durante a conversa.
DETALHES
O Bild afirma que Obama queria informações detalhadas sobre Merkel, que teve papel decisivo na crise da dívida da Eurozona e é considerada a líder mais poderosa do continente europeu.
O resultado, segundo o jornal dominical, foi que a NSA intensificou a vigilância sobre suas comunicações, monitorando não apenas o celular que Merkel utiliza para tudo que é relacionado com seu partido, União Democrata Cristã (conservador), mas também seu telefone oficial criptografado.
O Bild destacou que apenas um telefone fixo com segurança especial de seu gabinete está longe do alcance da espionagem americana.
A informação de inteligência obtida era enviada diretamente à Casa Branca, segundo a reportagem, sem passar pelo quartel-general da NSA em Fort Mead, Maryland.
Bild e Spiegel descreveram um aumento da atividade de espionagem no quarto andar da embaixada dos Estados Unidos no centro de Berlim, perto dos prédios do governo, de onde os americanos vigiam Merkel e outras autoridades germânicas.
Se a espionagem a Merkel começou em 2002, isto significa que o governo dos Estados Unidos, sob a presidência de George W. Bush, a vigiava quando ela ainda era a principal líder da oposição, três anos antes de assumir o posto de chanceler.
O Bild afirma que o antecessor de Merkel, Gerhard Schroeder, também estava na mira da NSA por sua clara oposição à invasão americana do Iraque.
Bush também desconfiava do chanceler social-democrata alemão por seus vínculos estreitos com o presidente russo Vladimir Putin, informa o jornal.
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