China estreia no mercado de armas de alta tecnologia
PEQUIM - Quando a Turquia anunciou planos para construir um sistema de defesa antimísseis de longo alcance, dois anos atrás, parecia provável que o contrato multibilionário fosse entregue a uma empresa americana.
Mas a escolha, em setembro, de uma quase desconhecida empresa chinesa de defesa, a China Precision Machinery Export-Import Corporation, surpreendeu o "establishment" militar-industrial em Washington e Bruxelas.
O contrato, que ainda não foi assinado, foi especialmente incomum porque o sistema chinês de defesa antimísseis seria difícil de ser integrado ao equipamento da Otan. Além disso, a China Precision é alvo de sanções dos EUA por vender tecnologias que os americanos consideram que poderiam ajudar Irã, Síria e Coreia do Norte a desenvolver armas não convencionais.
Xu Guangyu, general da reserva e diretor da Associação Chinesa de Controle de Armas e Desarmamento, disse que a ofensiva para vender armas tecnologicamente mais avançadas é "um fenômeno muito normal". "Na indústria de armas, a China está tentando aumentar a qualidade e reduzir o preço", afirmou. "Somos guiados pela concorrência."
Sim Chi Yin/The New York Times | ||
Funcionários da Aviation Industry Corporation of China com maquetes de modelos de aviões comerciais e militares, em Pequim |
Executivos do setor e analistas de vendas de armas dizem que os chineses provavelmente superaram seus rivais em termos de preço, oferecendo seu sistema por US$ 3 bilhões. No entanto, a escolha pela Turquia de uma fábrica estatal chinesa é um marco.
As empresas chinesas eram conhecidas até agora principalmente como fornecedoras de armas pequenas. Agora, elas estão disputando aquisições internacionais de equipamentos de alta tecnologia -de fragatas a drones e caças-, principalmente nos países em desenvolvimento.
As empresas russas são as que mais sentem essa pressão, mas companhias dos EUA e de outros países ocidentais também estão cada vez mais esbarrando nos chineses.
O Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo divulgou neste ano um relatório sobre transferências globais de armas, segundo o qual o volume das exportações chinesas de armas convencionais -o que inclui os mais sofisticados aviões, mísseis, navios e artilharia- saltou 162% entre 2008 e 2012. O Paquistão é o principal cliente.
O instituto estima que atualmente a China seja o quinto maior exportador mundial de armas do mundo, à frente do Reino Unido.
Segundo a IHS Jane's, empresa de consultoria e análise setorial, as vendas de armas da China para o exterior quase duplicaram nos últimos cinco anos, chegando a US$ 2,2 bilhões e levando a China a superar o Canadá e a Suécia, tornando-se o oitavo maior exportador mundial em termos de valor.
O investimento chinês tem sido maior nos caças - versões tradicional e "invisível"- e também em motores para jatos, área em que a China até agora dependia de parceiros ocidentais e russos, segundo Guy Anderson, analista sênior da indústria militar na IHS Jane's, em Londres.
Anderson estimou que a China ainda esteja a uma década de concorrer em condições de igualdade com as nações ocidentais na questão da tecnologia propriamente dita. Mas o equipamento chinês é mais barato e pode se tornar popular nos mercados emergentes, inclusive em países africanos e latino-americanos.
Um funcionário de defesa do Japão, rival territorial da China que monitora de perto seu comércio armamentista, disse que os jatos chineses ainda têm deficiências que podem prejudicar as vendas internacionais. Acima de tudo, a China não é capaz de fabricar motores e componentes de avião confiáveis, segundo ele. O caça JF-17, projeto conjunto sino-paquistanês, usa motor russo.
É também comum que os clientes comprem plataformas chinesas e as guarneçam com equipamentos ocidentais melhores.
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