Snowden escreve carta à Alemanha para colaborar com investigações de espionagem
Edward Snowden, ex-prestador de serviços da Agência de Segurança Nacional americana (NSA) que está asilado na Rússia, disse à Alemanha que conta com o apoio internacional para deter a "perseguição" feita por Washington após ele ter revelado a escala da espionagem mundial norte-americana através de telefonemas e da internet.
Em carta aberta à Alemanha, Snowden disse que suas revelações ajudaram a "abordar os abusos antes ocultos da confiança pública".
Snowden escreveu que "falar a verdade não é um crime", se queixou de que o governo norte-americano continua a "tratar dissensão como deserção" e mencionou uma "campanha contínua de perseguição" que disse tê-lo forçado a procurar asilo na Rússia.
"Estou confiante que com o apoio da comunidade internacional, o governo dos Estados Unidos vai abandonar esse comportamento prejudicial", diz a carta enviada à chanceler da Alemanha, Angela Merkel, ao Parlamento alemão e a promotores federais alemães.
Tobias Schwarz/Reuters | ||
Parlamentar alemão mostra carta escrita por Snowden para as investigações de espionagem na Alemanha |
Snowden entregou a carta ao parlamentar alemão Hans-Christian Stroebele com quem se encontrou em Moscou na última quinta-feira. Stroebele mostrou a carta à mídia em Berlim nesta sexta-feira.
Stroebele, de 74 anos, político do partido de oposição Verde no Parlamento, entregou a carta a repórteres logo depois de desembarcar de volta à Alemanha. A carta não tem um destinatário específico, começando simplesmente com "a quem interessar possa".
ESPIONAGEM
O vazamento de informações sobre alvos e métodos de espionagem da NSA, desde o rastreamento de emails ao grampeamento de telefones de líderes mundiais, incluindo o de Merkel, enfureceu os aliados dos EUA e deixou o país na defensiva.
Autoridades dos EUA querem a extradição de Snowden para responder por acusações de espionagem, por ter revelado ilegalmente documentos secretos do governo. O chefe do serviço secreto britânico MI5 diz que o material que Snowden entregou a jornalistas foi um presente aos terroristas.
Snowden, de 30 anos, ex-empregado da CIA e ex-prestador de serviços da NSA, fugiu de Hong Kong para Moscou no começo do ano e obteve do presidente russo, Vladimir Putin, asilo no país. Ele diz ter sido forçado ao exílio por ter cumprido sua "obrigação moral".
Snowden afirmou estar pronto a viajar para a Alemanha para ajudar na investigação parlamentar sobre o grampo do telefone de Merkel feito pela NSA, mas acrescentou: "Eu preferiria ir antes ao Congresso dos EUA ou a um comitê do Congresso dos EUA para colocar os fatos na mesa." Nenhuma das opções é provável num futuro imediato, já que ele não pode deixar a Rússia.
O Parlamento alemão quer conversar com ele sobre a espionagem de Merkel e outros políticos e empresários, segundo reportagens. Mas visitar a Alemanha traria um grave problema diplomático para Merkel e colocaria em risco o status de Snowden de asilado político na Rússia.
"O asilo que ele tem na Rússia lhe dá segurança na Rússia, mas não na Alemanha", disse Stroebele, que integra um comitê parlamentar que supervisiona as agências alemãs de espionagem.
As revelações de Snowden também abalaram as relações dos EUA com o Brasil, que segundo denúncias foi outro alvo dos programas de espionagem da NSA.
A presidente Dilma Rousseff cancelou uma visita de Estado que faria a Washington em outubro após denúncia de que teve suas próprias comunicações pessoais monitoradas pela agência norte-americana.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis