Opinião: Honduras e Venezuela, tudo a ver
Ideologicamente, Honduras e Venezuela são antípodas. O primeiro é governado por uma direita retógrada, o outro encabeça o "socialismo do século 21". Mas como se parecem.
Na política, um país é a imagem no espelho do outro. Anteontem, o candidato governista de Honduras, Juan Orlando Hernández, compensou a má administração do país com uma estratégia de campanha ao estilo chavista: farto e desenvergonhado uso da máquina estatal, cobertura tendenciosa dos meios de comunicação alinhados e demonização do adversário.
As oposições não ficam atrás. Na Venezuela, o antichavista Henrique Capriles armou para si mesmo uma armadilha ao não reconhecer a vitória de Nicolás Maduro. Em Honduras, o "chavista" Manuel Zelaya e sua mulher-candidata, Xiomara, proclamaram-se vencedores apesar de o resultado dizer o contrário.
Zelaya e Capriles aceitaram fazer campanha em condições desiguais contra o governismo, mas, nos dois países, o sistema de votação é razoavelmente confiável e avalizado por observadores internacionais. Reclamar depois é chorar sobre o leite derramado.
Os dois países estão unidos também no sangue derramado pela violência. Hondurenhos e venezuelanos apontam a insegurança como a maior preocupação, ratificada por taxas de homicídio entre as mais altas do mundo.
As causas são as mesmas: narcotráfico, disputa territorial de gangues, latrocínios, sequestros, extorsões e forças de segurança coniventes com o crime. Aliás, uma das rotas mais comuns do narcotráfico internacional hoje são avionetas com cocaína que partem da Venezuela rumo a Honduras.
As vítimas também compartilham a sina de ser, na maioria, pobres amontoados em favelas precárias.
É de notar que os dois governos acham que militares nas ruas são a solução para a segurança pública. Honduras acaba de criar a sua Polícia Militar, e a Venezuela lançou mão de tropas para intervir no comércio.
Mas a régua para medir é esta: a presença ostensiva de soldados costuma ser inversamente proporcional ao grau de desenvolvimento de um país.
A instabilidade política e decisões equivocadas provocam um imenso dano às economias. Na Venezuela e em Honduras, investimento estrangeiro é uma raridade, e a dívida pública não para de crescer. Curiosamente, ambos buscam na venda de matéria-prima à China a tábua da salvação.
Deixar o país natal é uma pergunta que hondurenhos e venezuelanos se fazem quase diariamente, e milhares acabaram emigrando nos últimos anos.
Em Caracas e em Tegucigalpa, a verdadeira revolução a ser feita está na institucionalização do Estado: separação de Poderes, transparência nos gastos públicos, regras eleitorais claras, Judiciário e polícia funcionais contra o crime.
Nada disso está na iminência de ocorrer. Tragados pelo personalismo e pela fobia ideológica, Honduras e Venezuela se dão um abraço de afogados dentro de um poço ainda sem fundo.
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