Plano de ação afirmativa até hoje permeia empresas
A despeito de ter franqueado a abertura do mercado ao capital internacional, minando assim a indústria sul-africana, o mandato de Mandela deixou como legado um conceito até hoje relevante na África do Sul.
Em parte, o desemprego decorrente da implantação do programa econômico neoliberal de Thabo Mbeki foi mitigado por medidas compensatórias na área social.
Mandela entregou milhares de casas populares e pôs em marcha um ambicioso programa de ação afirmativa, com o objetivo de transferir controle substancial da economia para as mãos de negros no menor período possível.
BEE (Black Economic Empowerment, ou "fortalecimento econômico negro") é ainda hoje uma sigla intimamente relacionada à vida de cada sul-africano.
Empresas, cidadãos, governo central e governos locais são obrigados a seguir uma série de fórmulas que medem quão "negra" é a participação nas empresas.
Pontos são atribuídos a companhias que atingem metas fixadas pelo governo em diversos critérios: da presença de negros na diretoria à proporção de estagiários. O temido "scorecard" (uma espécie de "boletim escolar" do governo) é fundamental na hora de a empresa se habilitar em um processo de licitação por um contrato público.
Se ajudou no nascimento de uma autêntica classe média negra, com cerca de 3 milhões de pessoas, o BEE também teve o efeito colateral de servir de instrumento para o surgimento de milionários bem conectados com o regime.
Mais preocupante, seu desenvolvimento foi claramente insuficiente para erradicar a pobreza e dirimir as tensões no país --até hoje presentes.
Sob Mandela, é possível argumentar que a África do Sul deu os primeiros passos para se tornar um país terceiro-mundista com problemas "normais", em que os atritos são mais de classe que de motivações raciais.
A dúvida é até que ponto isso representou um avanço.
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