Opinião: Estão querendo criminalizar o mais honesto dos desejos
Multar um homem porque procura uma prostituta, seja no bairro do Pari, em SP, seja em Paris, França, é criminalizar o mais honesto e familiar dos desejos. É rasgar o contrato social avulso mais sólido da humanidade --o que não carece de cartório ou carimbos-- desde que Jean-Jacques Rousseau (1712-78) se entendeu por gente.
Parte-se do pressuposto de que a prostituta da terra do cancan é violentada e a política francesa tem que protegê-la, mesmo que ela não queira. As manifestações do Sindicato do Trabalho do Sexo na praça Pigalle, símbolo internacional da prostituição parisiense, deixaram o discurso explícito.
O temor das sindicalistas é que as meninas tenham que trabalhar escondidas em lugares isolados, vulneráveis ao assombro e ao perigo da clandestinidade. Porque não se acaba, jamé, com o amor honestamente remunerado. Nem por lei nem por decreto. Todo amor é pago. Em cédulas ou em sofrimento moral.
Ninguém sabe ao certo onde nasceu a prostituição, o tal do ofício mais antigo do mundo. Foi a França, porém, que deu todo o glamour e a reinventou quase como arte do século 19 por diante.
A história se repete como grossa ironia para gente fina e correta.
Da poesia de Charles Baudelaire, o esquisitão que inventou a modernidade, aos romances da fase parisiense do americano Henry Miller, a prostituta virou a grande metáfora de Paris --a ideia de cidade a ser penetrada pelo homem que flana, seja um local ou um estrangeiro.
A prostituta está para Paris como Nossa Senhora e as meninas dos milagres para Fátima. A capital do amor, sincero ou por dinheiro, jamais será a mesma.
Logo a França que engambelou o mundo com seus caôs, com o simbolismo superior, agora se arvora a provinciana santa do pau oco.
Sinal do fim dos tempos, evidentemente. A aldeia gaulesa, porém, resiste. No Pari ou em Paris.
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