Maduro comemora maioria dos votos em municipais na Venezuela
O governo da Venezuela comemorou ter obtido neste domingo mais votos que seus oponentes na contabilidade nacional nas eleições municipais, consideradas um termômetro da aceitação do presidente Nicolás Maduro. No poder há oito meses, o herdeiro de Hugo Chávez enfrenta crise inflacionária e escassez de produtos básicos.
"Sem dúvida, com essa grande vitória, o povo da Venezuela disse ao mundo que a revolução bolivariana continua, agora com mais força", celebrou, em discurso, Maduro, que assumiu a Presidência em abril, pouco mais de um mês depois da morte de Chávez, vítima de câncer.
Oposição venezuelana teme ter desmotivado seus eleitores
Segundo o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, que só deu resultados parciais mais de quatro horas após o fechamento das urnas, o partido chavista, PSUV, e seus aliados, obtiveram 5,1 millhões de votos (49,2%), contra 4,4 milhões da Mesa de Unidade e aliados (42,7%), a coalizão que reúne os partidos oposicionistas. Sem detalhar, a presidente do CNE, Tibisay Lucena, disse que "outras siglas" receberam 8,03% dos votos.
Apesar de se tratar de eleições locais, a vitória na totalização nacional dos votos era um resultado importante para Maduro, que chegou à Presidência em abril último com uma magra vantagem de apenas 230 mil eleitores sobre Henrique Capriles. Agora, a diferença se alargou para cerca de 700 mil votos.
"Aqui está, comandante, o presente do seu povo. O presente da lealdade", seguiu Maduro, que decretou o dia de ontem - um ano da última vez em que Chávez falou à Venezuela pela TV - como dia do "amor e da lealdade" a seu mentor.
Para analistas e observadores, inclusive da oposição, no entanto, não foi a mística de Chávez o principal fator na recuperação governista em relação a abril. Maduro foi ajudado pela chamado "efeito TV de plasma", o apelo popular da redução compulsória dos preços de eletrodomésticos decretada pelo presidente no mês passado, em meio à inflação anual de mais de 50%.
No discurso na noite de domingo, Maduro prometeu aprofundar a "ofensiva econômica" nesta semana. Entre as medidas, prometeu regular as margens máximas de lucro de todas as empresas e ter foco no setor de habitação e alimentos.
Xinhua | ||
Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, mostra seu dedo pintado logo depois de votar na capital do país, Caracas |
OPOSIÇÃO
Maduro ironizou ainda o fato de a oposição ter proposto as eleições locais como "plebiscito" sobre sua gestão. "Capri-caprichito, toma teu plebiscito!", arengou a plateia, na transmissão pela TV.
Momentos depois, foi a vez de Capriles se pronunciar. Ele acusou o governo de "ler mal" os resultados. "A mensagem do país é muito clara: é um país dividido. Esse país não tem dono", disse ele, que defendeu a continuidade da Mesa da Unidade. Capriles acusou ainda o governo de tentar "inviabilizar" a oposição.
Apesar da derrota no voto nacional, a oposição pôde comemorar a manutenção de importantes centros de poder: quatro dos cinco municípios que formam Caracas e a prefeitura metropolitana, a administração geral da capital. Os opositores, liderados pelo governador Henrique Capriles, mantiveram ainda, o controle de Maracaibo, a capital do coração petroleiro do país, Zulia.
Outra vitória da oposição foi Iribarren, capital do Estado Lara, que passou do chavismo para a oposição. Lara é governada pelo chavista dissidente, Henri Falcón.
Houve duas vitórias mais simbólicas que numéricas --uma para cada lado. A oposição venceu em Barinas, a capital do Estado do mesmo nome onde nasceu Hugo Chávez. Já o chavismo venceu a cidade de Los Teques, capital de Miranda, o Estado governado por Capriles.
Como esperado, o chavismo confirmou domínio da maioria dos 337 cargos em disputa ontem. Dos 257 prefeituras com resultados irreversíveis, 58,5% foram para o chavismo.
Considerada uma variável crucial, a participação foi de 58,92%. A percepção de analistas nas últimas semanas que é a desmobilização afetaria principalmente os eleitores oposicionistas.
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