Farc declaram trégua natalina, mas governo colombiano continua com ofensiva
A trégua unilateral de 30 dias declarada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para o período das festividades natalinas começou neste domingo (15), enquanto o governo mantém suas operações militares contra o grupo guerrilheiro.
Transcorridas as primeiras doze horas desde o início do cessar fogo que --marcado para a 0h local--, nem as autoridades nem a imprensa reportou incidentes com o grupo armado ou ataques no país.
O último ato de violência relacionado ao conflito antes da trégua foi o assassinato, no sábado (14), do comandante da delegacia de polícia de Vega, no estado de Cauca, morto com um disparo na cabeça.
Segundo o comandante da polícia do Cauca, coronel Ramiro Ivan Pérez, se investiga se esse assassinato foi cometido pelas Farc, que opera na região.
Foi exatamente após um ataque com explosivos contra a estação de polícia Inzá (no Cauca), que deixou nove mortos, entre eles três civis, que as Farc anunciaram o início da trégua a partir de hoje.
Desde então o grupo guerrilheiro, que negocia em Havana um acordo de paz com o governo, não se manifestou sobre a trégua.
O procurador-geral da Colômbia, Eduardo Montealegre, cumprimentou a trégua unilateral das Farc e disse que após 50 anos de violência vê que há "uma vontade real" do grupo armado de buscar a paz.
"Parece um gesto de boa vontade enorme de parte das Farc ", disse Montealegre.
Coletivos que promovem a paz e políticos de várias vertentes também cumprimentaram a iniciativa em uma carta na qual expressaram seu desejo de que "se torne indefinido" o cessar fogo da temporada.
As Farc, ao anunciarem a trégua, advertiram que atuarão se forem atacados e que responderão "sem demora alguma" a qualquer operação das Forças Armadas. Manifestaram também seu desejo de que o governo responda ao cessar fogo "ordenando uma suspensão de sua ofensiva".
Essa possibilidade nunca esteve nos planos do governo, que reiterou que não interromperá a ofensiva contra os grupos ilegais, alegando que foi diante da pressão militar que foi possível levar a guerrilha à mesa de negociação para tentar pôr fim a meio-século de conflito armado.
"Somos otimistas que essa paz possa ser alcançada. Mas para isso precisamos continuar com a ofensiva, manter a pressão até o último dia. Porque ainda o caminho por percorrer é longo, cheio de obstáculos, cheio de inimigos", disse o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, na sexta-feira (13).
A trégua que começou este domingo é a segunda que as Farc declaram desde que se iniciou o atual processo de negociação com o governo. Amanhã, aliás, será realizado o último ciclo de diálogos do ano na capital cubana.
O primeiro cessar-fogo unilateral da guerrilha começou em 20 de novembro de 2012, um dia depois do início das negociações de paz, e se cumpriu relativamente, porque, durante os dois meses de duração, foram contabilizadas 57 ações armadas contra a população civil e a polícia, segundo a Defensoria Pública.
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