Análise: EUA e Irã se unem para combater a Al Qaeda
Uma aliança militar até então impensável, paradoxal em todos os sentidos, e que vai envolver troca de informações de inteligência e possivelmente ações diretas com apoio logístico de tropas, está vigorando em segredo entre os Estados Unidos e o Irã.
Essa aliança, não subscrita em nenhum documento ou protocolo oficial, é fruto do processo de distensão entre Washington e Teerã e tem como objetivo combater um ameaçador inimigo comum: a Al Qaeda, extremamente ativa mesmo com a morte de seu líder, Osama bin Laden.
Classificar a Al Qaeda como inimigo perigoso não é mera figura de retórica.
Atuando na Síria contra as forças de Bashar al-Assad, com apoio financeiro sunita (leia-se Arábia Saudita), os combatentes dessa organização têm infligido pesadas perdas às tropas governamentais e às milícias do Hizbullah, aliadas do Irã, que as apoiam.
Essa atuação perpetua a indefinição do conflito sírio, ao passo que no Iraque se afigura como uma situação extremamente mais complicada.
No sábado passado, a estratégica cidade de Falluja foi capturada pelo grupo extremista Estado Islâmico do Iraque e da Síria, com empenho decisivo das forças da Al Qaeda, à qual o grupo é ligado.
O fato é visto com gravidade pelos estrategistas militares americanos, já que se trata da primeira vez que a rede terrorista ocupa uma importante área urbana do Iraque desde a invasão norte-americana de 2003.
Alem de Falluja, os extremistas sunitas dominam áreas residenciais de Ramadi, capital da província e foco de grande agitação política contra Bagdá.
A situação torna-se mais controversa ainda quando se sabe que Al Qaeda e Israel têm no Irã um adversário comum. Os Estados Unidos, no caso do Iraque, prometem entregar material sofisticado de vigilância e ataque às forças iraquianas, tais como drones (aviões não tripulados) e foguetes de precisão.
Não se espera, é claro, que Israel venha a ter atitude semelhante armando os inimigos do Irã, como a Al Qaeda, que pregam a destruição do Estado judeu.
Por outro lado, apontam analistas israelenses, a situação explosiva ameaça envolver gradualmente o Líbano.
O atentado da semana passada em Beirute, mais precisamente em Dahiyeh, reduto do Hizbullah, é atribuído a forças ligadas à Al Qaeda.
É importante lembrar que, além de buscar vingar o assassinato de Mohammed Chatah, ex-ministro e ferrenho crítico do Hizbullah, pode ter sido também uma resposta à prisão, pelo Exército, de Majed al-Majed, chefe das Brigadas Abdullah Azzam, umbilicalmente ligadas à rede Al Qaeda.
MÁRIO CHIMANOVITCH é jornalista e ex-correspondente de jornais brasileiros no Oriente Médio.
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