Sequência de atentados deixa seis mortos e 92 feridos no Cairo
Uma sequência de ataques a bomba atingiu nesta sexta-feira o Cairo, no Egito, deixando seis mortos e 92 feridos. Os atentados acontecem um dia antes do aniversário de três anos do início dos protestos que derrubaram Hosni Mubarak e aumentam a preocupação do governo interino com grupos radicais islâmicos.
As quatro explosões eram direcionadas às forças de segurança, principal alvo de extremistas que são contrários à queda do presidente islamita Mohammed Mursi, em julho. Desde que os militares retiraram o mandatário, o número de ações desse tipo aumentou, em especial na Península do Sinai, no norte egípcio.
O primeiro ataque ocorreu em frente ao prédio da Diretoria-Geral de Segurança, no centro do Cairo. Ao menos quatro pessoas morreram e outras 73 ficaram feridas após a explosão de um carro-bomba no local. A maioria das vítimas é de policiais. Em seguida, homens armados dispararam contra o prédio.
A explosão –a mais grave desta sexta– também danificou o Museu de Arte Islâmica do Cairo, que fica em frente ao prédio Diretoria-Geral de Segurança.
Em um comunicado, o escritório do presidente Adly Mansour disse que iria "vingar as mortes dos mártires" que morreram na Diretoria-Geral de Segurança e punir severamente os responsáveis.
Duas horas mais tarde, um grupo lançou três bombas de fabricação caseira contra um carro da polícia que estava estacionado na estação do metrô de Al Behuz, no bairro de Doki. A ação deixou um morto e 15 feridos, em sua maioria civis que passavam em um ônibus pelo local.
Outra explosão foi registrada na Província de Giza, a oeste da capital, contra uma delegacia de polícia, mas sem deixar mortos nem feridos. Durante a tarde, uma outra bomba explodiu em frente a um cinema na mesma região, deixando um morto e cinco feridos.
'TERRORISMO'
Nenhum grupo assumiu os ataques até o momento. Porém, suspeita-se de ação de grupos radicais islâmicos da região do Sinai, que fizeram uma ação similar contra um prédio da polícia na cidade de Mansura, no delta do rio Nilo, em dezembro. No atentado, 16 pessoas morreram e cerca de 140 ficaram feridas.
O ministro do Interior, Mohammed Ibrahim, qualificou as ações de "terroristas e covardes". Para ele, os autores dos atentados querem evitar os festejos ao terceiro aniversário da queda de Mubarak, para o qual são esperadas milhares de pessoas.
O primeiro-ministro Hazem el-Beblawi condenou os atentados, em um comunicado, no qual disse que foram uma tentativa de "forças terroristas" de prejudicar o plano político do governo, com o apoio dos militares, de reconduzir o país a eleições livres e justas.
Estados Unidos e União Europeia também condenaram os ataques.
IRMANDADE
Os extremistas aumentaram seus ataques contra as forças de segurança após a queda do presidente islamita Mohammed Mursi, vinculado à Irmandade Muçulmana. Após a queda de Mursi, o governo prendeu centenas de membros do movimento islamita e reprimiu os protestos de seus aliados.
A entidade foi responsabilizada pelo atentado de dezembro, apesar de este ter sido assumido por um grupo da região do Sinai, e foi considerada um grupo terrorista. Em meio à briga entre os militares e os islamitas, foi aprovada uma nova Constituição, que garantirá a disputa de eleições sem a participação da Irmandade.
Depois dos atentados, centenas de pessoas gritaram frases contra a entidade e pedindo a morte de Mursi, que é acusado de conspiração contra o país e incitação à violência. O governo também deverá voltar a aumentar a repressão aos protestos de islamitas, que foram proibidos.
Nesta sexta, os militantes da Irmandade Muçulmana voltaram às ruas para se manifestar contra o governo. O Ministério da Saúde egípcio informou que pelo menos 12 pessoas morreram nos protestos. Do total de mortes, quatro foram registradas na cidade de Beni Suef (sul), duas em Fayoum (sul), duas em Damietta (norte), duas em Alexandria (norte), uma em Minya (sul) e outra em Sharqiyah (norte).
Ao todo, 111 pessoas foram detidas em todo o país devido aos protestos. Segundo o Ministério do Interior, todas elas têm ligações com a Irmandade Muçulmana.
MUSEU
O Museu de Arte Islâmica foi "completamente destruído" pela explosão desta sexta contra a Diretoria-Geral de Segurança do Cairo, situada em frente ao Museu, e precisará ser reconstruído, segundo o ministro de Antiguidades, Mohammed Ibrahim.
"Reconhece-se que várias peças foram afetadas, várias paredes foram derrubadas, todos os vidros no exterior do edifício estão quebrados e caíram as vitrines que eram usadas para a exposição das peças arqueológicas", explicou Ibrahim em comunicado.
"Condeno firmemente este ataque e os danos causados no famoso museu, que abriga milhares de objetos valiosos", declarou em comunicado a máxima responsável da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
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