Parlamento ucraniano aprova lei de anistia a manifestantes presos
O Parlamento da Ucrânia aprovou nesta quarta-feira a concessão de anistia aos presos por participar de protestos contra o presidente Viktor Yanukovich, desde que manifestantes desocupem edifícios públicos como a prefeitura da capital, Kiev, e vários outros tomados em todo o país.
A medida, resultado de 12 horas de negociação entre os parlamentares, não teve o endosso dos partidos de oposição por trás dos protestos, que se abstiveram de votar –condicionar a anistia à desocupação dos prédios era exatamente a proposta feita presidente na última segunda.
Sob gritos de protesto de parlamentares oposicionistas, o texto da anistia foi aprovado com os votos de 232 dos 416 deputados presentes, na maioria aliados ao governo Yanukovich. Houve 173 abstenções e 11 votos contrários.
O líder do partido nacionalista Liberdade, Oleg Tiagnibok, condenou a medida e comparou os detidos pelos protestos a reféns, que não serão libertados até a desocupação dos prédios públicos.
"Com essa lei, as autoridades do país admitem que fizeram reféns, como se fossem terroristas, para negociar com eles", declarou Tiagnibok à agência ucraniana Interfax.
Os manifestantes ocupam o centro de Kiev desde novembro, quando Yanukovich rejeitou o acordo de adesão da Ucrânia à União Europeia, alegadamente por pressão econômica feita pela Rússia –o presidente é aliado do seu colega russo, Vladimir Putin.
Na terça-feira (27), os opositores ucranianos conseguiram a renúncia do premiê Mykola Azarov e a derrubada de 9 dos 12 artigos da lei contra manifestações que o próprio Parlamento havia aprovado.
RESGATE RUSSO
Putin aumentou nesta quarta-feira a pressão sobre a Ucrânia ao dizer que a Rússia vai esperar até que o país forme um novo governo antes de implementar plenamente um acordo de resgate de US$ 15 bilhões (R$ 35 bilhões) que Kiev precisa com urgência.
Ele concordou com o pacote de ajuda à Ucrânia em dezembro, dando à ex-república soviética um socorro que a oposição e o Ocidente consideraram como um prêmio pelo país ter abandonado os planos de assinar acordos comerciais e políticos com a União Europeia e, em vez disso, prometer estreitar relações com a Rússia.
Mais cedo, o primeiro-ministro interino Serhiy Arbuzov disse que a Ucrânia receberá "muito em breve" uma parcela de US$ 2 bilhões (R$ 4,7 bilhões) dos US$ 15 bilhões (R$ 35 bilhões) do resgate oferecido pela Rússia. Pouco após a assinatura do acordo, Kiev recebeu US$ 3 bilhões (R$ 7,1 bilhões) de Moscou.
Já o presidente russo repetiu a promessa de honrar totalmente o acordo de ajuda à Ucrânia, mas deixou em aberto quando será concedida a nova parcela.
O acordo ainda permitiu a redução do preço do gás, um dos motivos da dívida ucraniana com os russos.
'GUERRA CIVIL'
Na abertura da sessão parlamentar que debateu a proposta de anistia, o primeiro presidente da Ucrânia após a queda da União Soviética, Leonid Kravchuk, que governou de 1991 a 1994, disse que o país está "à beira da guerra civil" e defendeu acordo para dar fim à crise política.
Segundo o governo da Alemanha, a chanceler do país, Angela Merkel, conversou nesta quarta por telefone com Yanukovich e com Putin. Ela pediu colaboração dos dois por uma saída democrática para a crise e disse que a UE está "pronta a ajudar" a Ucrânia.
A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, reuniu-se nesta quarta com o presidente ucraniano e disse que a violência no país "tem de cessar, venha de onde vier".
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