Ministro alemão sugere sanções à Ucrânia
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, cogitou, nesta terça-feira,o uso de sanções contra a Ucrânia, a não ser que o governo encontre uma solução política para a disputa com a oposição, que pretende votar a reforma constitucional do país.
"Eu acho que devemos mostrar sanções agora como uma ameaça", disse Steinmeier em entrevista a televisão alemã.
Os três partidos opositores representados no Parlamento propuseram nesta terça-feira a volta da Constituição de 2004, aprovada durante a Revolução Laranja e que diminui os poderes presidenciais –a escolha do primeiro-ministro e de governadores locais fica com o Parlamento.
Vitali Klitschko, líder do partido opositor UDAR, lembrou que aquela Carta Magna distribuía os poderes entre o presidente, o governo e o Parlamento, mas foi emendada de maneira "anticonstitucional" para transformar a Ucrânia em uma república presidencialista em 2010, quando o atual presidente, Viktor Yanukovich, assumiu o poder.
"O chefe de Estado está tomando uma posição irresponsável porque, por suas ações, está provocando as pessoas a tomarem medidas radicais e o mundo democrático a aplicar sanções", disse Klitschko após encontro com o presidente, que busca um novo primeiro-ministro depois da renúncia do gabinete de Mykola Azarov.
O ministro alemão disse que seu país deve estar pronto para adotar sanções caso a situação não melhore. A declaração de Steinmeier difere da posição adotada pela chanceler alemã, Angela Merkel, que afirmou, na semana passada, que não haveria sanções no momento.
Em resposta, o ministério das Relações Exteriores ucraniano conversou com o embaixador de Berlim em Kiev e divulgou nota informando ter enfatizado a necessidade de uma avaliação dos processos políticos internos e que declarações provocativas devem ser evitadas.
Na segunda (03), a União Europeia anunciou a preparação junto aos Estados Unidos de um pacote de ajuda econômica para a Ucrânia, em crise desde novembro, quando o presidente Yanukovitch decidiu não assinar um acordo de associação com a UE e se aproximar da Rússia.
A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, não precisou de quanto seria o montante, que serviria como uma alternativa à ajuda econômica de Moscou, que ofereceu à Ucrânia 15 bilhões de dólares em créditos e uma redução do preço do gás.
Ashton e o secretário de Estado americano, John Kerry, se encontraram com líderes opositores ucranianos na Alemanha, no sábado (1). Ashton viaja a Kiev nesta terça para se reunir com as autoridades, a oposição e representantes da sociedade civil.
A Rússia já entregou 3 bilhões em ajuda, mas advertiu que a concessão do restante dependerá da situação política do futuro governo ucraniano.
REFORMA CONSTITUCIONAL
A presidência ucraniana rejeitou a proposta de voltar à Constituição de 2004 de maneira rápida argumentando que seria um passo anticonstitucional. Yanukovich disse a Klitschko, durante o encontro, que uma reforma constitucional poderia levar até seis meses, o que aumentaria a tensão na sociedade, segundo o opositor.
A questão também não foi resolvida no Parlamento, onde o porta-voz, Volodymyr Rybak, estabeleceu o prazo de até quarta-feira (05) de manhã para que haja uma decisão sobre mudanças na Constituição, de acordo com a BBC.
O deputado governista Nikolai Rudkovski defendeu um plebiscito para que os ucranianos decidam entre uma república presidencialista ou parlamentar, e se desejam ingressar na União Aduaneira com a Rússia ou na União Europeia.
Rudkovski afirmou que, após a consulta, a Ucrânia deveria convocar eleições parlamentares e presidenciais antecipadas, como exigem os três partidos opositores com representação parlamentar.
O deputado governista Yuri Miroshnichenko propôs à oposição criar e liderar uma comissão parlamentar para abordar a reforma da Constituição.
Miroshnichenko, que também é representante do presidente no Parlamento, descartou nesta terça-feira que as autoridades estejam pensando em convocar eleições parlamentares antecipadas.
Horas antes, ele teria garantido a um canal de televisão ucraniano que Yanukovich estaria disposto a adiantar as eleições no caso de não haver um acordo.
Miroshnichenko explicou que, com a aprovação da lei de anistia, o governo descartou outra concessão como as eleições antecipadas.
A oposição, porém, não ficou satisfeita com a decisão do Parlamento de condicionar a libertação dos manifestantes à desocupação dos prédios públicos e propôs outro projeto de lei de anistia na segunda (03).
A crise na Ucrânia, país de forte divisão interna entre o leste, que fala russo, e o oeste, que fala ucraniano e é europeísta, é a maior desde a independência do país em 1991. Manifestantes favoráveis à aproximação com a Europa estão acampados e montam barricadas na praça da Independência em Kiev. Confrontos com a polícia já deixaram cinco mortos.
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