Venezuelana radicada nos EUA faz apelo em vídeo sobre protestos
O título é pouco promissor. "Isso não vai pegar", você pensa. Mas o curta "What's Going On in Venezuela in a Nutshell" (O que está acontecendo na Venezuela, em resumo), postado no YouTube na sexta-feira passada, já foi visto mais de 1,3 milhão de vezes –e levou a situação dos manifestantes estudantis na Venezuela à atenção do mundo.
O filme foi concebido e criado por Andreina Nash, 21 anos, que nasceu em Valencia, Venezuela, mas se mudou para a Flórida aos 9 anos quando seu pai obteve um emprego ali.
A sequência de fotos e vídeos dos protestos que forma seu filme de seis minutos de duração é narrada na voz dela –jovem, nítida e americana, mas com a palavra "Venezuela" dita com a pronúncia espanhola. Ao fundo, a trilha sonora de "Gladiador" sobe em um crescendo.
"Me desculpem, infringi tantas regras", disse Nash (ela não obteve permissão para usar a música). "Só queria algo que fosse adequado."
Houve três mortes confirmadas de estudantes nos protestos da semana passada, todas por ferimentos de bala.
O filme mostra um manifestante recebendo uma coronhada nas costas de um policial armado e então sendo chutado na cabeça. Em dado momento a narração de Nash é suspensa enquanto as imagens continuam –cenas de rua filmadas em ângulo oblíquo, com manchas de sol iluminando partes de cenas sombrias filmadas à distância de manifestantes avançando por uma rua, enquanto um chicote estala implacavelmente –o som de tiros rápidos.
Nash pegou as imagens da página do Instagram Venezuela Lucha, que vem documentando a violência. É um trabalho impressionante de criação cinematográfica. Como ela aprendeu a fazer isso?
Até agora, Nash disse que só tinha usado o YouTube "para assistir a vídeos de música aleatórios". Mas na quinta-feira retrasada ela foi à aula, como de costume, na escola de marketing e telecomunicações da Universidade da Flórida. Ela e seus colegas estavam aprendendo a usar o Adobe Premier Pro. "Aprendi em um dia", conta.
No dia seguinte, "acordei e fiz o vídeo entre 10h e 22h. Faltei à aula para fazer. Geralmente não sou boa com tecnologia. Nem sei checar meu computador para ver se está com vírus. Quando fiz o filme, foi como se Deus estivesse guiando minhas mãos."
Nash tem familiares na Venezuela, mas não falou com eles sobre o filme. "A empresa que opera as linhas telefônicas fixas é controlada pelo governo", explica. Ela mostrou o vídeo à sua irmã gêmea, Alejandra, antes de postá-lo, mas não a seus pais. "Eles estavam curtindo seu jantar de Dia dos Namorados. Não quis incomodá-los."
Ela pretende criar uma sequência? "Com certeza absoluta. Mais injustiças estão acontecendo. Acho que é meu dever continuar a informar o mundo sobre o que está acontecendo. No próximo vídeo, minha voz não vai estar tão tranquila. Vou erguer a voz um pouco."
O único problema –pequeno, quando comparado aos problemas das pessoas cujas experiências ela vem documentando– é que ela não fez sua lição de casa. "Precisamos fazer uma apresentação sobre um fato importante que aconteceu no mundo das telecomunicações." Este filme deve lhe valer pelo menos a nota mínima para aprovação.
Tradução de CLARA ALLAIN
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