Comunicado do Mercosul sobre crise na Venezuela gera mal-estar no Itamaraty
O comunicado do Mercosul sobre a crise venezuelana –que caracteriza as recentes manifestações da oposição de "ações criminosas"– causou mal-estar entre diplomatas brasileiros, segundo relatos ouvidos pela Folha.
Muitos criticam a falta de equilíbrio do documento, que não menciona o direito à manifestação. O resultado, na avaliação desses diplomatas, ficou mais parecido com a retórica do governo Nicolás Maduro do que com um texto de linguagem diplomática.
Divulgado anteontem, o comunicado afirma que os países-membros "rechaçam as ações criminosas dos grupos violentos que querem disseminar a intolerância e o ódio na Venezuela como instrumento de luta política".
Ontem, o governo brasileiro adotou um tom de cautela sobre os protestos no país vizinho. Para o Planalto, as motivações e desdobramentos dos incidentes na Venezuela ainda não estão claros.
Essa situação lembra o clima de incompreensão diante das manifestações populares que tomaram as ruas do Brasil, em junho passado. Também por isso, o governo evita condenar episódios de violência nos protestos.
Questionado sobre o tema ontem, o ministro Luiz Alberto Figueiredo (Relações Exteriores) se limitou a dizer que o Brasil acompanha "com atenção" as manifestações.
O chanceler britânico, em visita ao Brasil, foi mais incisivo: "O Reino Unido está muito preocupado com a violência na Venezuela, (...) especialmente com relatos de que o governo está procurando suprimir protestos pacíficos, prendendo ativistas, líderes oposicionistas", disse William Hague.
Diante da situação na Venezuela e da crise econômica na Argentina, o governo brasileiro reconhece que partes do mundo começam a ver a região como "de risco". Mas a avaliação é de que o Brasil dificilmente seria atingido por essa imagem.
Questionado sobre a situação na Venezuela, o Itamaraty informou que a opinião do Brasil está refletida nas notas divulgadas pela Unasul e pelo Mercosul, ambas de apoio a Maduro.
A Venezuela é um dos principais parceiros comerciais brasileiros. Em 2013, o volume negociado foi de US$ 6,03 bilhões, dos quais US$ 4,8 bilhões são exportações brasileiras.
(FABIANO MAISONNAVE, FLÁVIA FOREQUE, NATUZA NERY)
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