Berço dos protestos na Venezuela sofre 'punição' do governo
Enquanto o ruído das manifestações tomava as ruas de Caracas com panelaços, e o presidente Nicolás Maduro fazia um longo discurso na televisão, no distante Estado de Táchira as pessoas saíam às ruas por outras razões.
A região andina da Venezuela, que inclui Táchira e Mérida, viu as primeiras manifestações ocorrerem, há duas semanas. Agora, está praticamente incomunicável.
À escassez de alimentos e à falta de segurança, que geraram o início dos protestos, soma-se agora o corte dos serviços de internet e de telefone. "É um complô do governo para isolar Táchira, porque foi um dos primeiros lugares a se levantar contra Maduro e de quem o chavismo sempre teve raiva", disse à Folha o deputado Leomagno Flores, eleito pelo Estado.
Flores veio à capital conversar com representantes diplomáticos da Colômbia para pedir ajuda humanitária à região (que faz fronteira com o país vizinho).
"Estamos sofrendo bloqueio do Exército. É o governo venezuelano contra os venezuelanos", afirmou Flores.
A Folha tentou comunicar-se com o diário local "La Nación" durante a tarde, mas a ligação não completava.
Via Twitter, estudantes relatavam e postavam fotos dos sobrevoos de aviões de guerra pela região central, onde havia barricadas de lixo em chamas.
A região é um tradicional reduto do antichavismo; porém, é governada desde as últimas eleições pelo partido de Maduro.
"O presidente tem raiva dali, porque sabe que a população não o apoia. Agora está respondendo com o desabastecimento e o isolamento", disse em entrevista o opositor Henrique Capriles, governador do Estado de Miranda.
O governador de Táchira, José Gregorio Vielma Mora, disse que a sede do governo havia sido atacada por bombas e pedras arremessadas pelos manifestantes.
AFP/Luis Robayo | ||
Manifestantes seguram bandeira venezuelana em ato em San Cristóbal, capital de Táchira |
CARACAS
A Folha ouviu jovens que se manifestavam na tarde de sexta-feira na praça Francia, no bairro nobre de Altamira, que viveu uma noite violenta na última quarta-feira.
"Temos que continuar aqui, não podemos sair. Tem gente que acha que é melhor nos prepararmos para o que vai ocorrer mais adiante, mas a mudança é agora", disse Estela Correa, que segurava uma faixa em apoio ao opositor Leopoldo López, detido desde a última terça-feira.
As entradas e fachadas dos prédios ainda exibiam as marcas da violência: grades retorcidas, forçadas pelos estudantes que buscavam se abrigar dentro dos edifícios, e paredes chamuscadas.
Os proprietários dos apartamentos entravam e saíam com pressa, sem querer conversar muito.
Uma senhora que vive num edifício no alto da praça e que não quis se identificar afirmou que era muito difícil dar apoio aos jovens quando a confusão começava.
"Se eles entram invadindo, a gente se assusta. Por outro lado, me solidarizo com a causa que defendem. É a causa de todos nós. Mas deveríamos encontrar um meio de dialogar. Somos todos venezuelanos."
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