Piloto de avião desaparecido fez contato com sistema já desativado
Um importante sistema de sinalização do avião desaparecido da Malaysia Airlines já havia sido desligado antes da última conversa entre o piloto e o controle de tráfego aéreo, afirmou ontem o governo da Malásia.
Na comunicação, o comandante disse "tudo bem, boa noite". Pouco tempo depois, a aeronave sumiu do radar.
Como é impossível que o sistema tenha sido desligado acidentalmente, o piloto sabia que não estava "tudo bem" neste contato. Isso significa que mentiu ou que foi coagido a mentir –talvez por um sequestrador.
O fato reforça as investigações sobre o piloto e o copiloto. Uma hipótese estudada é de que um dos dois tenha mergulhado o avião num ato de suicídio –levando consigo as outras 238 pessoas a bordo (227 passageiros).
Anteontem, a casa do piloto Zaharie Ahmad Shah, em Kuala Lumpur, passou por revista da polícia, que não deu detalhes sobre a ação. Um simulador de voo foi encontrado no local.
Aviões comerciais usam um sistema de rádio ou satélite para enviar informações que só pode ser desabilitado manualmente –o que requer alto nível de conhecimento técnico.
O premiê do país, Najib Razak, afirmou que a aeronave, um Boeing-777, foi desviada de seu rumo de forma deliberada, o que levantou especulações sobre sequestro. Depois disso, o avião ainda teria voado por sete horas.
BUSCAS
Ontem, as autoridades malasianas informaram que as buscas pelo avião foram ampliadas para uma área ainda maior, que inclui esforços de mais de 20 países, segundo o ministro da Defesa malasiano, Hishammuddin Hussein.
Com base em indicações de que a aeronave desviou drasticamente sua trajetória para oeste, o foco das buscas deixou de ser o sul da China e passou a dois corredores.
Um deles, ao norte, vai até o sul do Cazaquistão; o outro, ao sul, vai da Indonésia em direção ao Oceano Índico.
O porta-voz de uma das unidades dos Estados Unidos que participam da busca, comandante William Marks, disse em uma entrevista que a busca no oceano Índico era como "procurar por uma pessoa em algum lugar entre Nova York e Califórnia".
As possibilidades de falha mecânica ou erro do piloto parecem estar descartadas. De acordo com a Malaysia Airlines, piloto e copiloto não pediram para voar juntos, o que diminui a possibilidade de que o desaparecimento tenha sido uma ação coordenada entre os dois.
O voo ia de Kuala Lumpur (Malásia) a Pequim (China) com combustível suficiente apenas para a jornada. Das 239 pessoas a bordo, entre passageiros e tripulantes, 154 são chineses.
A Malásia destacou no sábado que os dados por satélite mostravam que o voo 370 da Malaysia Airlines pode ter prosseguido a viagem para um destino desconhecido, em uma ampla zona que vai do Cazaquistão até o sul do Oceano Índico, depois de ter desaparecido dos radares civis em 8 de março.
Hishammuddin disse em uma entrevista coletiva que a Malásia, que coordena a busca, entrou em contato neste domingo (16) com as autoridades de pelo menos 22 países para solicitar ajuda.
O auxílio inclui informação por satélite e dados militares sensíveis de países como Estados Unidos, China e França.
Hisshammuddin, questionado sobre as possibilidades de sucesso em uma área de busca tão ampla, admitiu a dificuldade da tarefa.
"Esperamos que as partes possam prestar seu apoio e nos ajudar a reduzir a busca a uma zona muito mais factível", disse.
A polícia malasiana anunciou que busca informações sobre todos os passageiros com outros países e agências de inteligência, ao mesmo tempo que reforça as investigações sobre o motivo do desvio proposital do Boeing 777 de sua rota original Kuala Lumpur-Pequim.
A polícia revistou no sábado as residências do piloto e do copiloto e apreendeu o simulador de voo que o capitão da aeronave, Zaharie Ahmad Shah, construiu em casa.
CHINA
Mais cedo, a China voltou a criticar o governo da Malásia.
No sábado, o governo malasiano anunciou que a desativação dos sistemas de comunicação e a brusca mudança de rumo do avião da Malaysia Airlines eram "coerentes com uma ação deliberada de alguém" dentro da aeronave.
"É evidente que o anúncio de informações tão essenciais chega terrivelmente tarde, após sete dias atrozes para os familiares dos passageiros desaparecidos", afirmou a agência oficial Xinhua.
A agência considera a demora "inaceitável" e destaca que a Malásia "não pode fugir de sua responsabilidade".
"Com a ausência, ou ao menos a falta, de informação pontual comprovada, grandes esforços foram desperdiçados, concentrando as operações de busca em uma área na qual não estava o avião".
"Isto demonstra que as operações de busca dos oito últimos dias foram totalmente vãs e falharam no essencial. As hipóteses que as autoridades malaias se esforçavam para desmentir se mostraram exatas", criticou o jornal "Beijing Times".
Editoria de Arte/Folhapress | ||
NOVAS INVESTIGAçÕESÁrea de busca foi ampliada e duas possíveis rotas estão sendo consideradas |
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